Categorias
Crianças e Famílias Infraestruturas e urbanismo Notícias Políticas Segurança Web e outros Media

Paradigmas

Notícia antiga, de 06/06/2008, da LUSA:

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, inaugurou hoje a “cidade da segurança”, montada na baixa de Águeda, onde as crianças circulam em pequenas viaturas e aprendem a respeitar as regras da condução. (…)

Além de ruas e sinais de trânsito, postos de abastecimento de combustível e oficinas para os pequenos carros motorizados em que as crianças são convidadas a circular, sob a orientação de monitores, existem também para os mais adultos representações comerciais de várias marcas automóveis, alguns dos quais híbridos.

Start them young… Não faria mais sentido ensiná-los algo útil para o presente deles: andar a pé pelas ruas, convivendo com outros peões e com carros e afins, andar de bicicleta – o único meio de transporte próprio a que podem ter acesso, a usar os transportes públicos,…?

O ministro acabou por participar na brincadeira, tentando pilotar um mini todo-o-terreno, mas poucos metros andou.

A incentivar logo a cultura dos SUV na cidade, nice

“Mais de quatro mil crianças são mobilizadas a participar nas várias actividades da cidade da segurança, para que possam vir a ser cidadãos mais responsáveis”, adiantou.

Promover a educação para a segurança e para o civismo é excelente, mas as crianças podem ser ensinadas para a sua realidade actual e não só para aquilo que serão daqui a 10 ou 15 anos… E porquê assumir que toda a gente será um condutor de automóvel no futuro? Parece ser considerado uma inevitabilidade da vida. 😛 A tendência é justamente a oposta!… Infelizmente, o paradigma actual dominante das acções de educação para a segurança rodoviária é o da criança-futuro-adulto-condutor-de-automóvel (e não condutor de moto ou de bicicleta ou de nada, simplesmente utilizadora de transportes públicos ou adepta de andar a pé). É a educação para o futuro (que pode ter efeitos positivos sobre o comportamento como condutores dos pais, como acontece com a educação ambiental e a reciclagem), negligenciando um pouco a educação para a criança-hoje-ou-amanhã-utilizadora-de-transportes-públicos-ou-passageira-em-automóveis-peão-e-utilizadora-de-bicicleta… Aliás, no final «as crianças participantes no projecto foram inscritas, gratuitamente, como associadas do Automóvel Clube de Portugal, e vão passar a receber correspondência com informações detalhadas relativas à prevenção e segurança rodoviária». E que tal inscreveram-nas também na FPCUB e na ACA-M?… Tudo isto parece-me… como promover o álcool junto de uma população de alcoólicos.


Notícia de 20/06/2008, no Barlavento online
:

«Bicicletas vão ganhar terreno em Faro»

(…) Em declarações ao «barlavento», o autarca precisou que os futuros corredores reservados a bicicletas vão, numa primeira fase, ser paralelos às vias existentes, o que irá obrigar «a um controlo máximo da velocidade automóvel».

«A perspectiva é criar uma zona específica e protegida, com sinalética própria, servida por um corredor com 2,20 metros e uma altura de dez centímetros», explicou o edil farense.

2,20 m parece bom para uma via bi-direccional destinada a velocípedes. O facto de estar desnivelada relativamente à estrada também é óptimo, tratando-se de uma via que se pretende segregada. No entanto…:

Mas nem só as bicicletas terão luz verde nestes corredores: pensados como espaços de «mobilidade amiga», os percursos vão igualmente estar reservados aos peões, o que dará ao projecto as características de um circuito de manutenção.

E está o caldo entornado. Primeiro porque traduz logo o conceito em causa: vias recreativas. O que é excelente, também precisamos delas. O problema é que em Portugal, com o nosso actual Código da Estrada, se houver uma destas vias para ciclistas estes são obrigados a circular por elas em detrimento da estrada normal ao lado. As vias são “obrigatórias para ciclistas”, não é como as vias do BUS, “reservadas” (o que implica que estes podem optar). Assim, neste novo cenário em Faro, alguém que use a bicicleta para se deslocar normalmente será forçado a ir pela ciclovia onde conviverão pouco alegremente peões e ciclistas. Isto tornará a viagem mais demorada e mais perigosa do que a opção anterior de seguir pela estrada (e aqui penso que se trata de estradas e ruas urbanas e não de Eixos Norte-Sul e 2ªs Circulares, em que qualquer alternativa é melhor).

De boas intenções está o Inferno cheio, não é o que se costuma dizer? Aplica-se neste caso. A Câmara de Faro, e o parceiro da UALG, o Centro de Investigação em Paisagem, Território e Urbanismo, parecem cheios de boas intenções, o que é louvável, mas aparentam carecer de conhecimentos práticos e até técnicos de como implementar soluções e promover a mobilidade em modos suaves, nomeadamente de bicicleta, fora do contexto recreativo… 🙁

Segundo um estudo apresentado por João Janeiro, um aluno finalista daquela universidade, Faro terá capacidade para, a longo prazo, desenvolver cinco tipos de redes cicláveis hierarquizadas, cuja malha mais importante coincide com o centro da cidade.

Resta esperar por mais informação para saber os detalhes destes “cinco tipos de redes cicláveis hierarquizadas”…

Categorias
Crianças e Famílias Infraestruturas e urbanismo Leis e Códigos Notícias CaP Políticas Segurança

Aprender a andar de bicicleta

Eu aprendi a andar de bicicleta… andando. 🙂 Ninguém me ensinou, nem sequer houve alguém a segurar-me no banco antes de eu conseguir equilibrar-me sozinha, pelo que me lembro. Antes tinha tido um triciclo, mas são skills muito diferentes. 😉 Comecei com rodinhas, mas não gostei e pedi logo para tirarem aquela “porcaria”. Depois caí logo na primeira curva (a 90º, a esquina do pequeno prédio onde vivia). Mas foi a última vez, até ver (dois cromossomas X significam frequentemente mais cautela). 😉

A maior parte das pessoas da minha idade e do meu “meio” têm uma história similar, mais ou menos rodinhas, mais ou menos pai-que-segura-no-banco.

Mas há algumas pessoas que nunca tiveram a oportunidade de aprender enquanto crianças, e depois o tempo disso passou (ou assim sentiram elas). As razões são várias, ou os pais não as deixavam andar na rua, ou nunca lhes deram uma bicicleta e a liberdade para tentar, ou viviam num contexto desfavorável por aquele ou outro motivo…

Algumas pessoas ficaram marcadas por algum incidente que as afastou definitivamente das bicicletas, uma queda, um acidente,… Ganharam medo.

Andar de bicicleta devia fazer parte da Carta Universal dos Direitos Humanos. 😉 E qualquer idade é boa para começar. E hoje em dia com a crescente macro-urbanização e motorização, as pessoas, e principalmente as crianças e os mais velhos, perderam o direito à rua, e com isso vem menos oportunidade para coisas como estar na rua e andar de bicicleta.

Há algumas empresas (e particulares) que dão aulas de iniciação a andar de bicicleta, numa vertente meramente lúdica ou mais com o desporto em mente, a um nível mais básico (aprender simplesmente a equilibrar-se e a controlar a bicicleta) – ex.: Núcleo Cicloturista de Alvalade (uma associação desportiva), Decathlon de Alfragide, Pedalnature na Azambuja (um particular, pela info de que disponho), Megasport em Loulé – ou um pouco mais avançado (com vista à prática de BTT ou a fazer expedições) – ex.: Cabra Montez, em Cascais. Decerto haverão mais espalhados por esse país fora mas que por um motivo ou outro não chegam aos media, nomeadamente à web.

Embora esta meia-dúzia de iniciativas já seja um bom sinal, o mercado apresenta ainda muitas lacunas nesta área. Afinal, a quem recorrer para aprender a conduzir uma bicicleta na estrada, a interagir com o tráfego e a fazer parte do trânsito? Já faz parte do politicamente correcto falar sobre e incentivar o uso da bicicleta como transporte, mas depois o mercado tarda em responder às necessidades que esses novos comportamentos criam (formação, serviços, infra-estruturas, produtos,…). De momento, a única forma de aprendermos a integrarmo-nos no trânsito é… experimentando e aprendendo sozinho, com os sucessos e com os erros, com os sustos e com os exemplos de terceiros, e recorrendo a materiais estrangeiros (livros, sites, recursos multimedia)… Um caminho sólido mas moroso e mais arriscado.

A um nível governamental ou nacional, não há um programa nacional de ensino de condução de bicicletas, como há – a diferentes níveis – em Inglaterra, no Canadá e nos EUA, por exemplo. Nesse aspecto, Espanha aqui ao lado também não está melhor que nós (mas em compensação está muito à frente em infrastruturas e serviços para ciclistas e por ciclistas…). No entanto, e atítulo de exemplo, o BACC já oferece há algum tempo cursos de bicicleta para adultos (agora com um site renovado 🙂 ).

As nossas escolas de condução ensinam (muito precariamente, como se pode deduzir observando as nossas estradas e as nossas cidades, e passando pela experiência de tirar a Carta…) o Código da Estrada e a condução de veículos: ligeiros (os automóveis), pesados (autocarros e camiões) e motos, dado que para conduzir estes veículos é exigida uma Carta de Condução que habilite a pessoa a fazê-lo. Depois há veículos para os quais basta ter uma Carta tipo B ou whatever, como os tractores agrícolas e afins.

A condução de bicicletas não requer Carta de Condução, e desde 1992 (se não estou em erro), que não é necessária a Licença de Trânsito de Velocípedes. Felizmente.

Não sei se continua a poder registar-se uma bicicleta na Câmara Municipal, mesmo embora já não seja obrigatório. Quanto à Carta de Condução, o Estado podia ter uma própria para ciclistas que pudesse ser conferida a quem quisesse fazer um curso específico para estes utilizadores da estrada – algo não obrigatório mas que oferecesse a formação e a certificação. Talvez fizesse sentido estar associada à Carta de Condução de Motociclos ou então ao Curso de Formação dado pela Prevenção Rodoviária Portuguesa aos miúdos de 14 e 15 anos para lhes conferir a Licença Especial de Condução de Ciclomotores (que caduca quando atingem os 16 anos, tendo nessa altura que se pedir a substituição por uma definitiva). Essa “Carta” devia ser oferecida a ciclistas a partir dos 9 ou 10 anos de idade, em níveis adequados a cada faixa etária. Assim como está, nada é obrigatório mas também não temos a quem recorrer para aprender e para certificar (e perguntam vocês para que raio alguém quereria a certificação em condução de bicicletas…; bom, logo que consiga iniciar aqui uma nova série de artigos temáticos que ando a planear, volto a este pormenor. 😉 ).

Esta desformalização da condução de bicicletas na via pública associada à ausência de uma política e de um programa de formação, contribuiu provavelmente para negligenciar este tipo de veículo e todos os cidadãos que optam por ele para se deslocar. A bicicleta é algo marginal, que pode e deve circular na estrada mas que tem regras específicas para ela (algumas estúpidas) e que a rebaixam (e ao seu utilizador) face aos outros utentes das vias, ao mesmo tempo que nada lhe é exigido nem oferecido. Porque é que é importante um miúdo fazer um curso para aprender a andar de “acelera” na estrada mas já não o é se for para andar numa bicicleta? Ambos deverão aprender a usar os seus veículos e a conduzir de uma forma segura para eles próprios e para com quem se cruza com eles…

Sou completamente contra a obrigatoriedade de uma Carta de Condução ou de uma Licença de Circulação, atenção. A intenção pode ser boa, mas no caso das bicicletas há que ter em conta o factor social, o contexto cultural. Mesmo com Cartas, exames, Licenças, seguros, etc, etc, toda a gente quer ter um carro ou uma mota, especialmente os miúdos. A bicicleta ainda não tem essa “alavanca” a promover o seu uso. E a sua burocratização e formalização só contribuiria para afastar mais pessoas desta opção de transporte, verificando-se, consequentemente, perdas (ou ausência de ganhos) a nível da saúde e segurança públicas gerais, além da qualidade ambiental das zonas urbanas e da disponibilidade de espaço público.

Actualmente, temos esforços por parte da Prevenção Rodoviária Portuguesa em campanhas de Segurança Rodoviária, que passam pela distribuição de brochuras informativas e pela organização de concursos. A PRP (e outra entidades sem fins lucrativos, como a APSI, por exemplo) recebe anualmente fundos do Ministério da Administração Interna, provenientes do Fundo de Garantia Automóvel, para desenvolver campanhas e actividades de prevenção e redução da sinistralidade rodoviária. Este ano o tema é “Reduzir a velocidade nas estradas portuguesas“.

No pré-escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico (até aos 9-10 anos), os concursos consistem no desenvolvimento de trabalhos académicos (expressão plástica e expressão dramática), e as brochuras focam o comportamento das crianças como utilizadores das vias do ponto de vista de peões e de passageiros em veículos, havendo também sugestões de actividades a desenvolver em ambiente simulado e na rua a observar o trânsito. Algo muito positivo: abordam os conceitos de carpooling e de pedibus. 🙂

No 2º Ciclo (10 e 11 anos) há uma Taça Escolar de âmbito nacional, com provas teóricas e práticas, em bicicleta. É avaliado o comportamento na estrada do ponto de vista de um ciclista (mas não parece ser dada alguma formação prática prévia). É distribuída uma brochura com as regras aplicáveis aos ciclistas ilustradas.

No 3º Ciclo e no Ensino Secundário voltam os concursos em termos de trabalhos académicos, que passam por actividades tendo em vista a melhoria da segurança rodoviária na área envolvente às escolas.

A PRP oferece também apoio técnico no estabelecimento de Escolas de Trânsito, bem como formação dos respectivos técnicos.

O objectivo destas escolas é desenvolver acções de educação para a segurança rodoviária, como, a título de exemplo, as da Associação de Cicloturismo Fidalbyke, no Barreiro. Citando a PRP:

(…)as Escolas de Trânsito destinam-se precisamente a proporcionar às crianças os conhecimentos e competências necessárias a uma adequada integração na circulação rodoviária, recorrendo para tal a intervenções de natureza teórica em interligação com acções pedagógicas a nível prático, seguindo, neste último caso, uma metodologia de simulação de situações de trânsito.

Este é um trabalho meritório. No entanto, o conceito é insatisfatório. As crianças aprendem a teoria e depois põem-na em prática num ambiente simulado, sem condições reais de tráfego e numa pista desenhada à escala delas. Os miúdos não são ensinados nem treinados a circular na estrada da vida real. Imaginem que se aplicava o mesmo sistema para ensinar as pessoas a conduzir um carro ou uma mota… Na minha opinião, estas escolinhas podem ser um excelente recurso para crianças mais pequenas e para os iniciados, mas numa óptica de preparação para uma formação posterior em condições reais, nunca em substituição desta.

Pelo que tenho conseguido apurar, na política da PRP a bicicleta é aposta apenas para os miúdos a frequentar o 5º e 6º anos de escolaridade… 🙁 Não parece haver estímulo para o desenvolvimento das competências nos anos subsequentes. E desconheço até que ponto estas acções visam efectivamente formar os ciclistas do presente, ou se são apenas uma tentativa de formar os condutores de automóveis ou motas do futuro

Paralelamente a tudo isto, é cada vez mais enfatizada a “necessidade de maior cuidado por parte dos peões e dos ciclistas”, em campanhas e lobbies pelo uso de capacete e de coletes reflectores a toda a hora… Não se forma para dar às pessoas as ferramentas de segurança activa, mas cria-se uma cultura de medo, perigo, insegurança que coloca o ónus da segurança sobre a vítima potencial mais provável, levando-a a tentar proteger-se dessa “ameaça” com “armas” meramente passivas…Um logro, no fundo. E perigoso, ainda por cima, a diversos níveis (noutro post, que este já vai demasiado longo)…

Para finalizar, há uns meses encontrei isto perdido nas minhas coisas antigas da escola, “a flash from the past“:

1992:

PRP1.jpg-000.jpg

1987:

PRP2-000.jpg

Reparem nas roupas e nas bikes, muito old school! 😉

Há umas duas semanas atrás, fui trabalhar para o CIUL à tarde e à saída reparei nuns panfletos, ficando assim a saber do Fórum Distrital de Segurança Rodoviária, promovido pelo Governo Civil de Lisboa e pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a decorrer no próximo dia 28 de Maio, às 10h, no Fórum Lisboa (antigo Cinema Roma). A inscrição é gratuita (basta fazer a inscrição online), o programa está disponível no site.

A iniciativa, que conta com as presenças do governadora civil, Dalila Araújo, e do presidente da ANSR, Paulo Marques, tem como principal objectivo divulgar a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária (ENSR) e recolher vários contributos para o documento final da mesma e sua posterior implementação.
(…)
O controlo de velocidade, a condução sob efeito do álcool e drogas, a formação, as condições do acesso ao título de condução e a avaliação dos condutores, a formação e educação para segurança do ambiente rodoviária, o socorro às vítimas, a auditoria das vias, a inspecção da sinalização e a fiscalização da segurança do parque automóvel, são alguns dos temas que estarão em foco e análise no fórum distrital.

APELO! Este evento é uma excelente oportunidade de confrontar os hot shots todos acerca das questões de direitos e deveres dos ciclistas (Código da Estrada), segurança rodoviária, campanhas de educação, etc. Algum voluntário interessado? 🙂 Eu vou tentar ir assistir a pelo menos uma ou duas palestras, mas nesse dia a Cenas a Pedal deverá estar ocupada num evento (more on that later), e ainda não tenho o dom da ubiquidade. 😛 Além disso, era bom ter um voluntário activista menos tímido. 😳

Este tema dos direitos dos ciclistas (e não só…) e da segurança rodoviária é algo que me tem vindo a interessar especialmente desde há algum tempo. A FAQ que preparei e publiquei em Dezembro do ano passado foi reflexo disso mesmo. No seguimento disso, e face à lacuna sobre a qual acabei de dissertar neste post, a evolução natural só podia ser uma: avançar e procurar fazer parte da solução… 😉

Categorias
Leis e Códigos Políticas Segurança Web e outros Media

Estão a prepará-la…

A única “revista de bicicletas” que temos em Portugal, a Bike Magazine, admitiu a sua política de apoio à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas, numa resposta a uma carta de um leitor, na edição de Março de 2008:

(…) claro que somos completamente a favor da obrigatoriedade da utilização do capacete, e esta terá de certeza resultados práticos, principalmente na comunidade de ciclistas de estrada e dos utilizadores de ciclovias.

Resta saber que “resultados práticos” serão esses. Para o BTT (o público alvo da revista) reconhecem o maior valor da sensibilização:

(…) Quando falamos no BTT, a sensibilização poderá ter um papel ainda mais importante do que a legislação, porque este desporto pratica-se em locais onde a fiscalização é praticamente impossível. (…)

Posição da revista BIKEmagazine quanto à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas

A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) também defende esta posição:

E: A APSI conseguiu que as cadeirinhas nos carros fossem obrigatórias, bem como o uso de capacete para crianças que viajem nas bicicletas dos adultos. Há mais exigências a curto e médio prazo?

SN: (…) Em carteira, temos a obrigatoriedade do uso de capacete para ciclistas. (…)

No documento “Child Safety Report Card 2007 – Portugal” apresentam como uma das «medidas necessárias»:

Aumentar a segurança dos ciclistas através da introdução e cumprimento da lei da obrigatoriedade de uso de capacete para todas as idades.

Mais à frente na secção de «avaliação do progresso» são apresentadas as medidas de «segurança dos ciclistas»:

report-card_pt_ciclistas.jpg

Quanto à Prevenção Rodoviária Nacional… Encontrei o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária, de Março de 2003, do Ministério da Administração Interna. Para «maior segurança para os utentes dos veículos de 2 rodas», sugerem 3 tipos de medidas:

a) – Medidas Legislativas

a.3 – Promover o uso de capacete de protecção pelos utentes de veículos de duas rodas sem motor bem como a obrigatoriedade de colocação de reflectores nesse tipo de veículos.

b) – Medidas de formação/sensibilização

b.5 – Sensibilização para os benefícios da existência de seguro de responsabilidade civil para veículos de duas rodas sem motor.
b.6 – Organização de acções de sensibilização para os comportamentos mais adequados e/ou para o estabelecimento de boas relações entre os condutores de veículos de duas rodas e os automobilistas;
b.7 – Produção de materiais de apoio para jovens do 2o ciclo do ensino básico bem como para pais e professores com vista à educação rodoviária dos jovens como ciclistas;

c) – Medidas estruturais

c.3 – Criação de estruturas rodoviárias para veículos de duas rodas sem motor, tendo em conta aspectos como o lazer ou a sua utilização diária para pequenas deslocações (ex: casa-trabalho).

Resumindo: recomendar o uso de capacete, obrigar ao uso de reflectores nas bicicletas, divulgar as vantagens de ter um seguro de responsabilidade civil, organizar acções para fomentar o bom relacionamento entre ciclistas e motoristas, educar os jovens ciclistas (até ao 9º ano) através de panfletos e afins, construir ciclovias para lazer e commuting.

Serei só eu que vejo aqui um problema de fundo?…

IV.6.B – Capacete de protecção

IV.6.B.1. – Justificação
(…) No que respeita aos ciclistas, estudos indicam que em caso de acidente, a utilização de um capacete de protecção apropriado reduz a probabilidade de lesões na cabeça entre 45% e 85%, e que a probabilidade de morrer em consequência das lesões sofridas é cerca de 20 vezes menor.

IV.6.B.2. – Objectivos
(…) Não sendo um hábito a utilização dos capacetes de protecção por parte dos ciclistas, é objectivo principal promover a sua utilização, iniciando a sistematização do seu uso por parte das crianças, e estudando a possibilidade de o tornar obrigatório, a partir do momento em que, pelo menos 30% dos ciclistas já o utilizem.

IV.6.B.3. – Caracterização da situação actual
(…) Quanto aos capacetes para ciclistas, não existe nenhum normativo que obrigue ou que incite a sua utilização, já por si muito reduzida.

IV.6.B.4. – Medidas propostas
(…)
– Campanhas de sensibilização para o uso de capacete de protecção para ciclistas.

IV.6.C – Material retroreflector

IV.6.C.2. – Objectivos
– Conseguir a utilização regular de material retroreflector por parte de cerca de 50% dos peões, sempre que circulem à noite fora das localidades.
(…)
– Tornar obrigatória a retroreflectorização de velocípedes e conseguir a instalação efectiva do equipamento regulamentar em, pelo menos, 80% destes veículos.

IV.6.C.3. – Caracterização da situação actual
A legislação existente não estipula a obrigatoriedade do uso de dispositivos retroreflectores nos peões e ciclistas, pelo que o seu uso é quase nulo. A sensibilidade para a importância da utilização dos dispositivos retroreflectores é quase inexistente, e a disponibilização nos circuitos comerciais é igualmente muito fraca.

IV.6.C.4. – Medidas propostas
– Campanhas destinadas a promover a utilização de equipamentos retroreflectores por parte de peões e ciclistas.
– Alteração legislativa que torne obrigatória a retroreflectorização da bicicleta.
(…)
– Fiscalização da não utilização dos equipamentos retroreflectores tornados obrigatórios.
– Acções destinadas a promover a disponibilidade de materiais retroreflectores de qualidade nos circuitos comerciais e promoção da sua distribuição gratuita às crianças e aos idosos, nomeadamente aos que têm a necessidade de deslocações nocturnas.

Depois há outro documento, o do “PROGRAMA DE ACÇÕES 2003 / 2005“, anexo ao anterior. E este começa com a secção «EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO», e indica os objectivos da «educação rodoviária de crianças e jovens»:

Privilegiar a abordagem de conteúdos relacionados com as temáticas “Velocidade”, “Peões”, “Cintos de segurança e Sistemas de retenção para crianças”, “Ver e ser visto” e “Capacetes para ciclistas” nas práticas educativas a desenvolver junto das crianças e jovens das várias fases etárias.

A educação dos ciclistas resumir-se-á ao uso de capacete?…

I.1.3.3. – Ciclistas

a) No 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico

Reconhecer os ciclistas como utentes vulneráveis;
Compreender a utilização do capacete como um factor que contribui para a redução dos traumatismos cranianos;
Reconhecer a influência da noite na segurança da circulação dos ciclistas;
Reconhecer a necessidade de utilização de material retroreflector.

Foco nas medidas de segurança passivas: capacete, luzes e reflectores; not a word on real education!… E é só até aos miúdos do 9º ano, enquanto que as outras acções englobam os alunos até ao 12º…

Só as motas têm previsto acções de formação em condução, as bicicletas não são incluídas. Só as referem para falar dos capacetes.

Promover a prática de condução defensiva e de aperfeiçoamento de condução para os condutores de motociclos/ciclomotores (2 rodas é preciso duas vezes mais competência).

Cada vez é mais óbvio para mim que precisamos de agitar as águas nesta área… Aliás, acho mesmo que se devia destapar o ralo, deixar sair esta água e começar a encher com outra, fresca e limpa. 😛

E agora vocês perguntam: “mas porquê”? E eu gostava de vos responder, mas esse post ainda vai ter que esperar, pois o dia só tem 24 horas e o que eu tenho para fazer parece precisar sempre de 48… 😛 Sorry! Por exemplo, este post já estava semi-escrito há umas 4 semanas e só agora me consegui obrigar a terminá-lo, embora tenha abdicado da justificação da minha opinião e dumas outras coisinhas mais, por falta de tempo… 🙁

Categorias
Infraestruturas e urbanismo Mobilidade Notícias Políticas Segurança

Percorrer o Algarve de bicicleta, em segurança, ao longo da EN 125?

«Algarve: Requalificação da EN-125 prevê via exclusiva para bicicletas»

A Estradas de Portugal, pela voz de Santinho Faísca, apresentou na semana passada uma série de propostas para uma intervenção em 65 % da EN 125 (que une Sagres Vila do Bispo a V. R. de Stº António), entre as quais a construção de uma via exclusiva para bicicletas. Foi também referida a intenção de eliminar o estacionamento e os placards das bermas da estrada e plantar nesse espaço árvores tradicionais do Algarve. O objectivo é reduzir em 50 % os acidentes rodoviários (a EN 125 era a 2ª estrada mais mortífera do país). O investimento atinge os 150 milhões de euros.

Parece bom de mais para ser verdade…

Categorias
Infraestruturas e urbanismo Lifestyle e Cultura Mobilidade Publicações e recursos

De bicicleta em Portugal, pela A to B

Artigo sobre andar de bicicleta em Portugal, pela revista A to B Coincidência gira, falei há pouco de várias revistas anglo-saxónicas especializadas em bicicletas como meio de transporte e objectos utilitários, onde referi a A to B, e entretanto a última edição desta revista saiu e pude ler um artigo do Gary White (casado com uma portuguesa e visitante regular do nosso país) com o título:

EUROPE SPECIAL: Cycling in PortugalDon’t assume the grass is always greener

É sempre curioso ver o nosso país visto por pessoas de outra cultura. 🙂 E o que é certo é que ele acertou na mouche. E o que vale para Idanha-a-Nova vale para inúmeros outros locais em Portugal…

Já com a permissão do autor e da revista, disponibilizamos aqui o artigo, em pdf, para quem quiser consultar. 😉