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Ideias para Lisboa: António Costa de bicicleta entre o Intendente e a Praça do Município

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, vai ter o seu gabinete num antigo armazém no Largo do Intendente, actualmente a sofrer obras de recuperação. A partir de Abril, e por 2 anos, será este o seu local de trabalho, para «“dar confiança às pessoas para investirem” nesta zona de “má fama”»:

António Costa diz que, quando mudar para o número 27 do Largo do Intendente, já só irá aos Paços do Concelho para participar em reuniões do executivo ou cerimónias. “As pessoas precisam de sentir que há um comprometimento efectivo do município e das autoridades para mudar esta zona e o seu estigma”, afirma, defendendo que esta sua decisão constitui “um impulso” para a requalificação da área da Av. Almirante Reis.

Ora, este novo gabinete do Presidente dista menos de 2 Km dos Paços do Concelho, num percurso praticamente plano. Ida & volta fica em 4 Km:

Alternativas ao dispôr do Presidente:

Automóvel – 6 min para cada lado, considerando que tem estacionamento reservado literalmente à porta em ambos os locais e que não há congestionamentos. Visibilidade: nula. Interacção com a cidade: nula. Custo pessoal: elevado (sedentarismo). Custo para os contribuintes: elevado (mín. 2 €/volta, se incluir motorista, houver muito trânsito, etc, aumenta, mais espaço público para parqueamento em ambas as pontas). Liderar pelo exemplo: falhanço total.

Caminhar – 20 min até à Praça do Município, 22 min para regressar. Visibilidade: elevada. Interacção com a cidade: total. Custo pessoal: nenhum, ganho de saúde pelo exercício físico leve. Custo para os contribuintes: zero. Liderar pelo exemplo: sucesso.

Transportes públicos – o Google estima em 9 a 11 min Largo do Intendente-Praça do Município, e 10 a 16 min o inverso, usando o Metro ou a Carris, respectivamente. Visibilidade: elevada. Interacção com a cidade: razoável. Custo pessoal: nenhum, ganho de saúde pelas escadas de metro subidas ou pelos troços caminhados. Custo para os contribuintes: passe Metro 19.55 € ou 1.80 €/volta. Liderar pelo exemplo: bom.

Bicicleta – os mesmos 6 minutos que o automóvel, com a diferença de que o tempo de viagem não é significativamente afectado pelo congestionamento, e que o estacionamento pode até ser mais fácil/rápido. Visibilidade: elevada. Interacção com a cidade: elevada. Custo pessoal: nenhum, ganho de saúde pelo exercício físico ligeiro. Custo para os contribuintes: praticamente zero. Liderar pelo exemplo: grande sucesso.

A competitividade relativa de alguns destes modos já António Costa conhece em primeira mão. E em 2007  já ele incorporava a bicicleta no seu discurso político:

Desde essa altura já foram implementadas pela CML algumas medidas tímidasem nome das bicicletas” (deixemos por agora as críticas à implementação técnica e às estratégias políticas à parte). Embora ainda andemos todos a suspirar pela bendita ciclovia ribeirinha (mas uma coisa mesmo bem pensada, integrada com o resto, e bem implementada) que nos permita pedalar por prazer, desporto ou transporte entre o Parque das Nações e Algés (e depois até Cascais). O potencial a nível de turismo “vá para fora cá dentro”, de fim-de-semana e não só, de turismo estrangeiro, de dinamização de actividades culturais e comerciais à beira-rio, etc, etc,… é difícil de compreender de que raio estão estas autarquias à espera…

A proposta

Lançamos então aqui o desafio ao Presidente António Costa para “vestir a camisola” e adoptar a bicicleta para se deslocar entre o seu gabinete e os Paços do Concelho, sempre que tal seja necessário.

vestir a camisola

Foto: FPCUB

Porquê de bicicleta?

  • Porque é o meio de transporte mais competitivo para o percurso em causa: o mais rápido, o que oferece tempos de viagem mais fiáveis, e o mais fácil de usar.
  • É o que mais dinheiro poupa à Câmara (a seguir ao andar a pé, claro, mas hey, time is money!).
  • Permite ao Presidente incorporar um pouco de exercício físico leve no seu dia-a-dia, usando o tempo dedicado a transporte.
  • Permite-lhe manter-se em contacto próximo com a cidade mas deixa-o gerir a velocidade a que o faz, e as oportunidades de interacção com os munícipes (é mais difícil chegar a horas a uma reunião indo a pé e tendo que lidar com interacções populares imprevisíveis).
  • Ter o Presidente da Câmara a passar na rua de bicicleta, vestido normalmente, no horário de trabalho, regularmente, fará mais para “reduzir o estigma” da bicicleta, “dar confiança às pessoas para investirem” neste meio de transporte, e fazer as pessoas “sentir que há um comprometimento efectivo do município e das autoridades para mudar” as condições para o uso da bicicleta na cidade, do que qualquer ciclovia, folheto ou campanha.

Não se trata de pedir a António Costa que passe a comutar casa-trabalho-casa diariamente de bicicleta, nem que passe a ir para todos os compromissos profissionais de bicicleta. Trata-se de incentivá-lo a escolher o meio de transporte mais adequado para cada situação. E esta, de comutação entre dois locais de trabalho, num percurso plano de 2 Km, tem “bicicleta” escrito na testa.

Claro que há pequenos cuidados prévios que, tratando-se do Presidente da capital do país, convém ter:

  1. Escolher o equipamento certo. E o que é certo para um Presidente de Câmara na capital portuguesa, numa cidade onde raríssimas pessoas em cargos políticos optam pela bicicleta (logo, onde a imagem de exemplo do Presidente deverá ser positiva, e aspiracional)? Uma bicicleta que não o deixe ficar mal. Bonita, eficiente, fiável, simples de usar. Uma bicicleta que lhe permita sentar-se no selim e arrancar, sem se preocupar com calças a sujarem-se ou rasgarem-se na corrente, com salpicos das rodas. Com iluminação e protecção anti-roubo integradas. Tem que estar preparada para poder transportar confortavelmente e em segurança pastas, portáteis, dossiers, o que seja. Tratando-se de Lisboa e considerando o percurso em causa, tem que garantir um mínimo de conforto pelos buracos e empedrados de Lisboa. Os acessórios para o adequado transporte de bagagem e para lidar com os eventuais dias de chuva também terão que ser contemplados. Não é este o look que pretendemos para estas deslocações em particular:

António Costa de BTT

Foto: FPCUB

É mais este:

Foto: The Sartorialist

  1. Preparar-se convenientemente. Não se tratando de um cidadão anónimo, é de particular importância que o Presidente aja sabendo o que está a fazer, e fazendo-o o melhor possível. Fisicamente, este percurso é acessível a qualquer nível de condição física, por mais sedentária que seja a pessoa (e se fosse por isso, podia sempre ir para uma bicicleta com assistência eléctrica, quem sabe assim a rede MOBI.E não passaria a contemplá-las também…). Mas convém praticar antes o controlo básico e a destreza na bicicleta. Depois há que ter noção da legislação aplicável ao condutor de uma bicicleta, e aprender as devidas técnicas de condução de bicicleta, para garantir o máximo de eficiência, conforto e segurança nas delocações do Presidente. Dicas de como transportar coisas, prender a bicicleta, gerir o esforço, lidar com a chuva ou com o calor também deverão ser abordadas.

Ora, nesta óptica, o Presidente António Costa até está numa situação privilegiada, pois tem logo aqui à mão a única empresa nacional totalmente especializada nisto mesmo. E Lisboa até tem o Bicycle Repair Man, para que o Presidente nunca fique apeado! 🙂

Mas mesmo que opte por não recorrer a profissionais para obter a necessária consultoria e formação, e se meta nisto sozinho ou com as dicas dos assessores disponíveis,  o que interessa é pegar na bicicleta, seja ela qual for, e usá-la, seja como for, e manter-se firme nisso!

Bolas, se outros Presidentes o fazem (Moita Flores em Santarém, Macário Correia em Tavira, Marisa Santos em Sines, Santos Sousa na Murtosa), porque não o nosso?

E tenho a certeza de que a percepção e compreensão das necessidades dos ciclistas seria muito mais rápida por parte da CML se o Presidente experienciasse a cidade, regularmente e num contexto utilitário, em cima de uma bicicleta.

Este post foi enviado ao Gabinete do Presidente. A ver se pega. 🙂

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Adeptos do ciclismo utilitário, uni-vos!

A MUBi – associação pela mobilidade urbana em bicicleta, está aí para facilitar isso mesmo. 🙂

O site desta versão 2.0 da MUBi foi publicado ontem, marcando o arranque da associação, depois da falsa partida que coincidiu com a sua constituição legal em meados de 2009.

Enquanto empresa multifunções (consultoria, formação, eventos, alugueres, comércio, and beyond!), ainda teremos que aguardar até haver massa crítica local suficiente para algo similar a nível do sector. Não me refiro a uma ABIMOTA, mas a algo mais como isto, isto ou isto. De preferência não tanto como isto; para os utilizadores, há necessariamente que manter um pé atrás com uma entidade cuja missão principal é “pôr mais pessoas a andar de bicicleta mais frequentemente” quando se trata de uma associação de vendedores de bicicletas*, por isso é que são necessárias várias associações inter-disciplinares (comerciantes, académicos, técnicos, etc) e, fundamentalmente, de utilizadores, para equilibrar as coisas e conseguir destrinçar a validade das ideias da validade dos motivos. Daí a reiterada importância da MUBi.

A MUBi é uma associação de e para utilizadores, mas está aberta à cooperação de empresas (e outras pessoas colectivas públicas e privadas). Logo veremos como a Cenas a Pedal poderá apoiá-la “institucionalmente”. 🙂

*Para quem não segue estas coisas tão de perto, a Bikes Belong Coalition é uma associação de revendedores e distribuidores de bicicletas americanos que trabalha para pôr mais gente a andar de bicicleta mais frequentemente. A missão é a mesma do Cyclist’s Touring Club, no Reino Unido (com quem fizémos o nosso curso de Instrutores de Condução de Bicicleta). A diferença é que o CTC preocupa-se, antes de mais, em servir e proteger os ciclistas actuais, tentando sempre angariar mais. Já a BBC preocupa-se, antes de mais, em angariar mais ciclistas, tentando sempre servir e proteger os actuais. Isso dita as políticas que adoptam, os projectos que financiam, as cedências a nível de direitos e segurança versus aumento de ciclistas (e bicicletas vendidas…) que aceitam.
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Andar de bicicleta é uma chatice

😀

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“Às voltas e voltinhas para chegar às aulas”

Nas páginas 8 e 9 do “Mundo Universitário” desta semana vem um artigo sobre as opções de transporte dos alunos: autocarro, comboio, carro, metro e bicicleta:

Rita Ricot, 27 anos
Dá aulas de Psicologia Cognitiva ao 1.o ano do curso de Psicologia do ISPA – Instituto Universitário e frequenta o 4.º ano do doutoramento na área de Psicologia Social. Todos os dias parte do Alto do Pina para Alfama a dar aos pedais de uma das suas bicicletas. Pela R. Barão Sabrosa e Av. Mouzinho de Albuquerque chega a Santa Apolónia num instante. «Se eu levar a minha ‘pasteleira’, 15 minutos é o normal. Se for na minha bicicleta de estrada são 10 minutos.» Para voltar, o percurso é diferente devido às inclinações e demora cerca de 25 minutos: sobe para o Campo de Santa Clara, com a bicicleta à mão, Graça, Morais Soares, Alameda e Bairro dos Actores. Foi há um ano que adoptou regularmente a bicicleta, quando esteve dois meses em Santa Bárbara, na Califórnia. Fazia 16 km todos os dias, de casa até ao Campus, e quando cá chegou nem quis outra coisa, até pelo tempo que poupa diariamente. Já a possibilidade de chuva não a demove. «Aqui em Lisboa nós normalmente temos períodos de chuva e depois temos uma aberta, e às vezes chove miudinho, mas não incomoda assim tanto.» Piropos como ‘fecha a janela’ ou ‘estás com a porta mal fechada’ são frequentes, mas para a Rita andar de bicicleta é uma liberdade. «Metes-te em cima da bicicleta e vais. Tens uma liberdade de acção completamente diferente do que se fores de carro, autocarro ou de metro. A mim dá-me logo energia.» Quer desmistificar a ideia de que Lisboa é difícil por causa das colinas e rouba uma frase que já ouviu de várias pessoas: «As colinas estão mais na nossa cabeça do que na nossa cidade.»

De lembrar que a bicicleta é um meio de transporte autónomo em si mesmo, mas facilmente conjugado com todos os outros, expandindo assim o seu alcance. Isto era um recado bom para o rapaz que usa o carro por falta de oferta dos TP a horas mais tardias, talvez deixasse de trabalhar para, em grande parte, sustentar o carro. 😉

No artigo só faltou o “andar a pé”, esse modo eternamente invisível, de que ninguém parece lembrar-se…

Uma excelente dica do António Cruz. 🙂

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«Dê-nos uma boa razão para pôr alguém a andar de bicicleta»

Ciclistas, respondam ao apelo da Suzana e da Mónica, para , respondendo a umas perguntas simples:

1) diga-nos, numa frase, expressão ou ideia, o que diria a um amigo para o motivar a andar de bicicleta.

[(dica) lembre-se da eficácia do humor e da emoção quando se trata de persuadir alguém].

2) Quais os pontos que identifica como mais relevantes para sensibilizar a sociedade para preferir a bicicleta a outro veículo.

3) Conte-nos em 3 linhas como personaliza (ou personalizou na adolescência) a sua bicicleta. Qual a memória que o/a liga à bicicleta?

Saibam mais sobre o projecto de design de comunicação em que elas estão a trabalhar, “Design e mobilidade – por uma cidade mais inteligente e emotiva“, aqui.