Ora aqui está uma excelente notícia! Foi recentemente apresentada a rede/selo BIKOTEL, com respectiva página na web.
Este projecto lista, promove e reconhece unidades de alojamento que servem as necessidades dos utilizadores de bicicleta, particularmente na vertente de turismo e lazer, com boas práticas em 7 critérios obrigatórios: parqueamento, garagem, menu, lavagem, oficina, percursos, e vários opcionais. É até estranho não ter partido, nem contado com a colaboração, da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, pois tem tudo a ver.
Com o tempo, gostaria de ver esta rede alargar-se aos parques de campismo.
Um óptimo passo no sentido certo: dinamizar e melhorar o turismo em bicicleta em Portugal! 😀
Fevereiro foi o mês da bicicleta nas ONE TALKS. Estas são palestras / conversas semanais do One Perfect Movement, na Lx Factory. São sobre “transformação”: daqueles que falam da transformação do [seu] mundo. São de entrada livre e costumam ser emitidas online em tempo real, dando para as pessoas participarem via chat. A seguir às apresentações há um espaço de perguntas & respostas.
No dia 2 o Pedro Ventura falou da sua empresa de estafetas em bicicleta, a Camisola Amarela:
O Mário Alves, curador deste ciclo, convidou-nos a participar e nós, claro, aceitámos! Foi um bom pretexto para rever o nosso percurso, e mesmo antes da criação da CaP, e perceber como viémos aqui parar. Desenterrar fotos, vídeos, e-mails e posts antigos e saborear um pouco de nostalgia. 🙂 Foi ainda uma excelente oportunidade de explicar melhor aquilo que fazemos, como o fazemos e porquê, pois já nos apercebemos que muitas pessoas pensam em nós como sendo [apenas] “uma loja de bicicletas” ou, pior ainda, “uma loja online de bicicletas“, algo que está a falhar na nossa comunicação e que ainda não conseguimos corrigir por razões várias.
No dia 16 tivemos então a oportunidade de apresentar a nossa história e o nosso trabalho na Cenas a Pedal:
A apresentação teve que ser convertida para projectar, e algumas coisas, como vídeos e animações, não funcionaram, pelo que aqui fica ela na sua forma original:
( Aproveito para linkar os slides de uma apresentação anterior, que tem a ver connosco, e que achámos interessante, e que infelizmente não está disponível online, sobre empreender em casal. Talvez também ressoe junto de outros casais a pensar abraçar projectos a dois. 🙂 )
Finalmente, no dia 23 o Mário deu a sua perspectiva enquanto engenheiro civil especialista em transportes e mobilidade:
Não sei se têm reparado, mas entre palestras, passeios, eventos, passatempos, reportagens na TV, na rádio, etc, tem havido imensa actividade à volta do tema da bicicleta nestes dois primeiros meses do ano. Claro que este tempo fantástico (se nos esquecermos da agricultura, das barragens, etc) atípico muito tem ajudado a tornar isso mais propício, mas mesmo assim, é de ficarmos animados! 🙂
Peguem na bicicleta ou no triciclo (ou nos patins, skate, patinete, etc), e engrossem a Massa (Crítica). 🙂 Pelo convívio, pelo passeio, e pelo ciclo-activismo de dar mais visibilidade a estas opções de mobilidade e a quem as adopta. 🙂
Das 15h às 17h, quem tem bicicletas, cadeirinhas, atrelados, peças, luzes, alforges, etc, que já não usa pode tentar vendê-lo (ou doá-los) aqui, e quem procura estas coisas pode vir ver se tem sorte e aparece qualquer coisa. 🙂 Não é preciso inscrição e a entrada é livre para vendedores e compradores.
O convite estende-se ainda a quem produza artigos de artesanato relacionados com a bicicleta, ou para ser usado com ou na mesma, ou porque reaproveita peças velhas de bicicleta. A Tina Clay vai lá estar outra vez com os seus Flying Fat Man Caps!
No passado dia 15 de Fevereiro fui à Faculdade de Motricidade Humana, na Cruz Quebrada, assistir à conferência e debate “Mobilidade e Lazer – A Bicicleta Questiona (Des)equilíbrios”, centrada na bicicleta. Estava lá muita gente conhecida, claro. 🙂
Mas o que eu gostei mais foi mesmo da perspectiva externa oferecida pelo antropólogo Joaquim Pais de Brito e pelo pedagogo Carlos Neto. O primeiro falou do espaço para a bicicleta nas cidades, ou da ausência dele. Defendeu que, historicamente, a bicicleta nunca entrou na cidade. Que antigamente as casas ricas tinham portas próprias para as carroças. Quando veio o carro, ele usou estas portas, ou ficava na rua, pois era “auto-fechado”. Mas as bicicletas não têm lugar nas casas, não foram feitas para ficar na rua e só as casas ricas têm pátios… Lembrou ainda as reminiscências do cavalo no selim, no freio e no montar da bicicleta. O Carlos Neto usou uma expressão elucidativa, “analfabetismo motor“, algo que afecta as crianças de hoje em dia, privadas de explorarem o mundo físico à sua volta. Disse que a rua está extinta, as crianças não têm acesso à bicicleta porque não têm acesso à rua. Lembrou que nos países nórdicos, mais calvinistas, preparam as crianças para a adversidade, elas andam na rua, a pé, nos TP, de bicicleta, com frio, chuva ou neve. Cá protegemos as crianças atrofiando-as a ponto de serem incapazes de identificar riscos e de os gerir.
Esta questão do analfabetismo motor é muito relevante. Crianças e adultos sem bons reflexos, percepção espacial, coordenação motora, força, agilidade, serão pouco proficientes em navegar a cidade, e a usar uma bicicleta. Juntemos isto com total ausência de formação para tal na escola e pouca ou nenhuma “educação física” e o cenário torna-se preocupante…
Na sessão de debate a jornalista Carla Castelo alertou para o facto de a mobilização da população portuguesa só se dar para lutar contra a perda de direitos, e enquanto automobilistas e em questões relacionadas com centros de saúde. Ninguém se mobiliza para reivindicar mais direitos, nomeadamente enquanto peões, melhor espaço público, etc. Os pedidos de cobertura de notícias e as reclamações vão neste sentido. Daqui retiro que este pode ser um ponto de ataque do ciclo-activismonacional. Como me tenho fartado de dizer, não precisamos de ser muitos, temos e que ser barulhentos. Se enquanto ciclistas, peões, utentes dos TP, defensores de um novo urbanismo, etc, fizermos o nosso activismo de sofá telefonando e enviando e-mails para os media a reclamar e a pedir que cubram este ou aquele tópico relacionado com mobilidade e urbanismo sustentáveis, esse tema ganhará força…
Uma discussão sobre a exposição das pessoas ao fumo dos automóveis lembrou-me de outra vantagem das pedelec (a.k.a. bicicletas eléctricas) em cidades como Lisboa, ao permitir reduzir o esforço físico quando é preciso e ao permitir acelerar mais rapidamente quando se precisa para sair de uma dada zona, reduz a nossa exposição aos poluentes emitidos pelos automóveis.
Tinha sido convidada a apresentar um poster sobre a Cenas a Pedal, e apesar de não sido possível apresentá-lo na Sessão Poster de manhã, ele ficou lá depois, a espalhar a mensagem. 🙂
A Ana Santos, que organizou e promoveu este evento, escreveu sobre o mesmo aqui e aqui.