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Marginal à noite

No Domingo fomos aos subúrbios, jantar à casa materna. O Bruno na sua EBigDummy e eu na Agattu C7. Agora que temos ambos uma pedelec à disposição, já não usamos o comboio para poupar tempo e energia, vamos sempre a pedalar. Mau para a CP (mas merecido, dado que trata os clientes em geral e os ciclistas em particular como se não precisasse deles), mas óptimo para nós. Poupamos dinheiro, não nos preocupamos com horários e máquinas de bilhetes e bilhetes do inferno, e fazemos 1h a 1h15min de exercício ao ar livre para cada lado. E o regresso é sempre fantástico. 😀

A Marginal à noite é um espectáculo, bom piso, boa iluminação, plana, directa, junto ao mar, e quase sem carros (= pouco barulho e pouca poluição). Dá muitas vezes para ir lado a lado a conversar, como quem vai de carro é autorizado a fazer. E dá para parar junto ao mar e ouvir as ondas a bater nas rochas, e apreciar o mar numa noite de lua cheia. Priceless. 🙂

Claro que o melhor troço é aquele ao lado da linha e junto ao mar entre a curva do Mónaco e a Cruz Quebrada, longe dos carros (e sempre nos evita aquela subida, ehehe!). Pensar que podíamos ter algo parecido, desde Cascais até Lisboa, com gente mais inteligente ao comando das nossas autarquias… Era brutal! Mas por enquanto temos que nos aguentar com avestruzes, a governar-nos de cabeça enfiada na areia. *sigh*

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Estratégia 20:30:30:20, ou por que não devemos ver o mundo às fatias

A última newsletter da ECF inclui um artigo que pergunta: Is Europe A Cycling Utopia? The Charter of Brussels and European Bicycle Policy Trends“.

Citando: a Carta de Bruxelas, lançada na Velo-City de 2009, é a principal carta de princípios da ECF. Apela aos “fazedores de política” que promovam o uso da bicicleta e que definam metas claras e mensuráveis para o mesmo, em termos quer de distribuição modal (a percentagem de viagens feitas de bicicleta do número total de viagens), quer de segurança rodoviária. Vilas e cidades podem assinar a Carta de Bruxelas. Ao fazê-lo, comprometem-se a investir numa política para a bicicleta como parte integrante da mobilidade urbana. Ao mesmo tempo, a Carta é uma chamada à União Europeia para promover a bicicleta em meio urbano.

Ainda nenhuma cidade portuguesa assinou esta Carta. Em Espanha vão em 4. Para ilustrar a enorme variação a nível de utilização da bicicleta por toda a Europa, usaram um gráfico do Eurobarómetro 2011 (dados de 2010).

 

O que é que este gráfico nos diz, exactamente? Que tipo de coisas é possível inferir daqui?

Usando os dados disponíveis no documento do Eurobarómetro, coloquei num gráfico os dados relativos a alguns países seleccionados por serem comummente indicados como o modelo a seguir e outros pela proximidade geográfica ou cultural.

No primeiro gráfico agrupei os modos mais sustentáveis (transportes públicos, andar a pé, bicicleta) de forma a mais facilmente compará-los com o modo menos sustentável de transporte pessoal (automóvel):

Parece-me a mim que deveríamos estar todos a olhar para Espanha, que consegue ter 50 % das pessoas a depender das opções mais sustentáveis. No entanto, os políticos e os media focam-se sempre nos Países Baixos, Dinamarca, etc, por causa das bicicletas. Desagregando os modos mais sustentáveis:

Os Países Baixos estão muito à frente, com 31 % das pessoas a depender essencialmente da bicicleta no seu dia-a-dia, depois vem a Dinamarca com 19 %, depois a Suécia com 17 %, a Alemanha com 13 % e a Áustria com 8 %, e os outros com uns miseráveis 2-3 %. Em compensação, nestes países com muito ciclistas, os peões são espécies raras: Países Baixos com 3 %, Dinamarca com 4 %, Alemanha 7 %. De notar que Portugal aqui é o vencedor, com 18 % de pessoas a andar a pé, depois Espanha com 15 %, Reino Unido com 13 %. Também nos transportes públicos os “países da bicicleta” (11 %, 12 % e 15 %) ficam bastante aquém de Portugal e Espanha (22 % e 30 %).

O que se conclui daqui é que os Países Baixos, Dinamarca e Alemanha não estão melhores que Portugal e Espanha a nível de distribuição modal de modos sustentáveis. O que eles têm a mais em ciclistas têm a menos em peões e utilizadores de transportes públicos. Os ciclistas ocuparam o nicho ecológico dos peões. Agora, porque haveríamos de querer perder a cultura mediterrânica do andar a pé para a trocar por uma cultura de gente em bicicleta?… Que custos isso implica, e que ganhos traz?

Entretanto, em todos estes países, mais de metade da população depende essencialmente do carro para se deslocar no dia-a-dia. Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, usam mais o carro que Portugal.

Será que temos um problema por não termos pessoas suficientes a andar de bicicleta em Portugal? Ou será que temos um problema por termos pessoas demais a andar de carro?…

Afinal, quais são os problemas que assolam as nossas cidades e afectam quem nelas vive e trabalha, e que urge resolver?

  • escassez de espaço público de fruição (espaço é todo cedido ao automóvel, não sobrando espaço para circulação e estadia de peões: passeios, mobiliário urbano, esplanadas, quiosques, parques e jardins, árvores e canteiros, parques infantis, acessos, etc)
  • poluição atmosférica (doenças, degradação de edifícios)
  • ruído (doenças)
  • insegurança rodoviária (mortos e feridos, prejuízos materiais)
  • congestionamentos (falta de fiabilidade na duração dos trajectos e muito tempo perdido em deslocações, afectando a produtividade e a competitividade das empresas em geral e dos transportes públicos)
  • falta de acessibilidade (desenho para quem anda de carro porta-a-porta, estacionamento ilegal em passeios, passadeiras e demais zonas pedonais)
  • insegurança social (espaço público degradado e sem vida atrai delinquência e afasta as pessoas)
  • isolamento social (as pessoas fogem da rua por causa do perigo e do incómodo dos carros, não estabelecendo relações de proximidade na vizinhança)
  • obesidade e doenças relacionadas (dependência do carro para transporte porta-a-porta implica um estilo de vida sedentário que leva a problemas de saúde, e que já afectam as crianças)
  • endividamento das famílias (adquirir e manter 1, 2 ou mais automóveis por agregado familiar pesa imenso no orçamento familiar, levando ao endividamento ou a preterir outras opções de consumo mais construtivas – formação, cultura, lazer, desporto)

Estes problemas não se resolvem aumentando o número de ciclistas se isso implica reduzir o número de peões e de utentes dos transportes públicos, resolvem-se reduzindo a causa do problema: o excesso de carros, e o excesso de viagens de carro. É que se apontarmos para reduzir o problema, bom, reduzimos o problema. Se apontarmos para aumentar as soluções, podemos estar simplesmente a baralhar e voltar a dar, sem mexer no problema, e quiçá criando outros.

C + P + TP + A = 100,

pelo que C = 100 – (P + TP + A)

e A = 100 – (P + TP + C)

Sendo:

  • C ciclistas
  • P peões
  • TP utilizadores de transporte público
  • A automóvel

Um aumento de C pode ser obtido à custa de uma redução de P, TP e/ou A, o que significa que podemos conseguir um grande aumento de C apenas reduzindo P ou TP e deixando A igual, o que teria um impacto negativo (andar de bicicleta não é mais sustentável que andar a pé e de transportes públicos).

Já uma redução de A origina, necessariamente, um aumento de C, P e/ou TP, tendo sempre um impacto positivo porque qualquer uma dessas opções é mais sustentável que o carro.

Não precisamos de políticas para aumentar o número de bicicletas (estratégia pull), precisamos de políticas para reduzir o número de carros (estratégia push). Continuamos em negação, e isso está a sair-nos caro.

Reduzir o número de carros em circulação é bom para toda a gente, mesmo para quem anda de carro! Permite reduzir os congestionamentos (bom para taxistas, TP, empresas de logística, profissionais móveis, e o cidadão comum quando tem que usar o carro para os seus afazeres) e encontrar mais facilmente lugar livre para estacionar.

Comecemos pelo simples e lógico, eliminar as deslocações de carro ridículas.

A avaliação dos resultados das iniciativas pró-bicicleta é fundamental, de modo a perceber como foram conseguidas mais viagens em bicicleta, pois o que interessa é que tenham sido feitas de carro anteriormente, e não que tenham vindo substituir viagens a pé ou de transporte público…

Enquanto nos mantêm entretidos a celebrar e lutar por migalhas com os outros mexilhões do espaço público e do sistema de transportes, o automóvel mantém e expande o seu domínio, escravizando-nos a todos (começando por quem mais dele depende).

Porque não objectivos mais ambiciosos e holísticos? 20:30:30:20?

  • a pé 20 %
  • transporte público 30 %
  • bicicleta 30 %
  • automóvel & moto 20 %

De notar que isto não se trata de exclusão de modos, mas apenas de equilíbrio. Os carros são úteis e necessários para muitas actividades e em muitas situações e devem servir bem o seu papel nesses casos. Mas há alternativas melhores para os outros casos. Não podemos aceitar que funcionem livremente como ervas daninhas no ecossistema urbano.

Uma cidade com esta distribuição modal terá um sistema de transportes públicos eficaz, espaço público de qualidade, comércio de rua pujante, e uma população mais rica e mais saudável, e toda a gente chega aonde precisa de chegar, em tempo útil e em conforto e segurança. Trabalhemos para uma visão do bolo inteiro e não de uma só fatia…

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A coisa vai

Ontem tivemos a visita de uma pessoa da CML cá no ateliê! Vieram confirmar os nossos contactos e funcionamento e tirar umas fotos da entrada, para actualizar o Lisboa Ciclável. Depois de ter enviado há várias semanas, meses?, um e-mail a alertá-los para problemas no site (listagem de lojas e oficinas de motas que não lidam com bicicletas, lojas que já não existem, moradas desactualizadas, lojas novas que não estão lá, e falta de endereço web nos contactos, etc), e de ter perdido a esperança de receber uma resposta, quanto mais ver os problemas resolvidos, eis que sou surpreendida pela positiva. 🙂 Disseram-nos que estão a fazer a verificação dos dados e que vão actualizar o site, com direito até a fotografia, para facilitar encontrar os locais! É bom ver as coisas a mexer e a melhorar! 🙂

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Das [micro-]empresas

A malta queixava-se de que o nosso ateliê estava muito incognito, pelo que resolvemos atenuar ligeiramente a coisa afixando um placard por cima dos azulejos onde figurava ainda o nome dos últimos inquilinos do sítio. 😛 Pelo que para já a Cenas a Pedal está sinalizada assim:

A blast from the past

Quando estamos no ateliê e ninguém estacionou o carro ilegalmente a barrar a passagem frente ao portão, a bakfiets está lá (normalmente deixando espaço ao lado para entrarem e saírem de bicicleta) a dizer “presente, aqui!” por nós.

A blast from the past

Somos uns sentimentalões, nós. 🙂 E adeptos dos 3R’s. 😉 Este placard é especial, fazia parte do nosso stand na primeiríssima feira/evento em que expusémos/participámos, nos idos de 2007, o I Salão de Evasão & 4×4 de Oeiras.

CaP's booth

No final da feira, pedimos para ficar com o placard, e guardámo-lo até hoje. 🙂 É engraçado lembrarmo-nos dos primeiros tempos, em que tudo era novo para nós. Continuamos a desbravar caminho, e a partir muita pedra, não é fácil aprender a fazer uma empresa sozinhos, ainda mais sem ter formação académica na área (um vem da informática e outro da biotecnologia), e sem nunca ter feito a mesma coisa numa empresa de terceiros (como é mais normal entre os empreendedores empresariais), e entrar numa área nova, até criar uma área nova. Mas para compensar a angústia de não saber como as coisas funcionam e “como se fazem as coisas“, tivémos a oportunidade de fazer as coisas à nossa maneira, como achámos que fazia sentido, sem estarmos formatados nem condicionados pela forma como os outros faziam as coisas (até porque não havia ninguém a fazer exactamente o que nós queríamos fazer!). Depois lá fomos aprendendo através da observação dos outros e da experiência própria, e afinando a nossa maneira de fazer as coisas. A aprendizagem e a afinação é, de resto, permanente. Mas aquela nossa ingenuidade inicial foi o que permitiu à Cenas a Pedal ser a Cenas a Pedal, única, original, autêntica.

O caminho faz-se caminhando. Os amanhã fazem-se hoje. Trata os outros como gostarias que te tratassem a ti. São estes os principais lemas que nos orientam no nosso caminho.

Nós, entre os dois, fazemos tudo na CaP, e muitas vezes as pessoas não têm noção que estão a lidar directamente com os donos da mesma. Recentemente, num serviço de aluguer sub-contratado, uma monitora do cliente comentou “que sorte” ao saber que o Bruno, a trabalhar como monitor nesse serviço e um tipo novo, era o dono da empresa. Aqui estão duas ideias pré-concebidas, mas erradas, muito comuns: 1) que as coisas acontecem por sorte, e 2) que ter uma empresa implica ter uma boa vida.

(A não ser que seja herdada) termos uma empresa própria onde desenvolver o trabalho que queremos nos termos que queremos, não é fruto da sorte (embora esta jogue o seu papel), mas de muito, muito trabalho, e muito sacrifício pessoal. Ter uma empresa não significa ser patrão (nós não temos empregados), e ter uma empresa (e mesmo ser patrão) não significa ganhar bem nem trabalhar pouco como a malta sonha. Para a generalidade das micro-empresas (com até 9 trabalhadores), e mais ainda para as “nano-empresas” como nós (2 pessoas!), principalmente nos primeiros anos de vida, significa precisamente o contrário, ganhar pouco, às vezes nada, e trabalhar muito. A recompensa não é financeira, é a de ter a oportunidade de criar algo, de mudar o mundo, de fazer diferente, de deixar um legado. E também de poder dispôr do seu tempo, quando dá…, e de seguir a sua própria ética, e quem sabe um dia conseguir ter algum património construído para um “rainy day” (o equivalente às poupanças dos trabalhadores por conta de outrém). O dinheiro tem que dar para pagar as contas (um grande feito, normalmente!), e com sorte sobrar algum para reinvestir na empresa, para a manter sempre actualizada e em evolução positiva (parar é morrer!).

Outra ideia pré-concebida comum e totalmente errada é confundir empresas com lucro e entidades sem-fins lucrativos com ausência de lucro. E, claro, assumir os primeiros como uns sacanas gananciosos que só fazem o que der dinheiro, tudo o que der dinheiro, e porque dá dinheiro, e os segundos uns anjinhos altruístas e abnegados que trabalham de graça por uma causa maior. Isto enerva-me solenemente, porque é uma caricatura.

Era bom que ter uma empresa implicasse ter automaticamente lucro, mas isso é raro (a não ser que não paguem impostos, a SS dos empregados, os fornecedores, etc…). E era mau que as entidades sem fins-lucrativos nunca tivessem lucro, não poderiam crescer e expandir a sua [boa] acção. As únicas diferenças fundamentais entre uma empresa e uma associação sem fins lucrativos, é que para a primeira bastam 2 sócios (ou até 1) e para a segunda são precisos uns 9, e que quando há lucro*, se for uma empresa este pode sair da mesma e ir enriquecer os sócios, e se for uma associação sem fins-lucrativos isto não pode acontecer, o lucro fica na associação e é reinvestido (mas isto é, de resto, o mais normal numa pequena empresa também).

* lucro é o que sobra depois de pagos: o IVA, o PEC, os ordenados, os subsídios de alimentação, os fornecedores, a Segurança Social, os seguros, a renda, a água, a luz, a internet, o telefone, os empréstimos bancários, os consumíveis (papel, toners, detergentes, etc), as amortizações (coisas que se avariam ou degradam e precisam de substituição ou reparação, etc), as licenças (ex.: de publicidade, de ocupação de espaço público, de música, etc), os gastos com publicidade, os serviços (contabilista, informático, designer, limpeza, etc), o pagamento dos domínios e do alojamento de sites, etc, etc… Depois vem o Estado e sobre estas sobras leva-nos entre 12.5 % a 25 % em IRC. Se isto não der um resultado negativo, estamos bem!

Quando criámos a Cenas a Pedal, em 2006, a ideia era constituí-la na forma de uma Community Interest Company, algo que existia no Reino Unido desde 2005, mas não em Portugal (pelo que investigámos e pelo que nos foi dado a escolher), pelo que a única opção para um projecto criado e controlado a dois foi uma sociedade comercial convencional. Na prática, contudo, somos efectivamente uma empresa social.

A social enterprise is a business with primarily social objectives whose surpluses are principally reinvested for that purpose in the business or in the community, rather than being driven by the need to maximise profit for shareholders and owners. Social enterprises tackle a wide range of social and environmental issues and operate in all parts of the economy. By using business solutions to achieve public good, it is believed that social enterprises have a distinct and valuable role to play in helping create a strong, sustainable and socially inclusive economy.

……..

Social Entrepreneurship is the work of social entrepreneurs. A social entrepreneur recognizes a social problem and uses entrepreneurial principles to organize, create and manage a venture to achieve social change (a social venture). While a business entrepreneur typically measures performance in profit and return, a social entrepreneur focuses on creating social capital. Thus, the main aim of social entrepreneurship is to further social and environmental goals. Social entrepreneurs are most commonly associated with the voluntary and not-for-profit sectors, but this need not preclude making a profit.

Menu do dia

A mudança social para a qual trabalhamos tem a ver com a forma como as pessoas se deslocam e tudo o que está a isso associado, a jusante e a montante. Actualmente a mobilidade individual está fortemente dependente e até adicta do automóvel particular, criando problemas relacionados com:

  • a saúde: doenças derivadas da poluição atmosférica e sonora, e do sedentarismo, mortes e sequelas derivadas da reduzida competência, responsabilização e fiscalização dos condutores de automóveis,
  • as relações sociais entre as pessoas: a insegurança e a ocupação do espaço público pelos automóveis conduz ao isolamento, e à perda de relações de proximidade na comunidade, essenciais para haver redes de solidariedade e cooperação, e uma democracia funcional,
  • a equidade e prosperidade económicas: os congestionamentos encarecem as actividades económicas, e roubam tempo às pessoas que poderia ser usufruído em actividades com a família ou amigos, gasto em si próprias, ou doado à comunidade na forma de voluntariado ou participação cívica; e as perdas de vidas humanas e os encargos de saúde derivados da poluição, do sedentarismo e dos acidentes constituem perdas económicas e gastos financeiros pelo Estado e pelos cidadãos; o gasto com o posse e uso dos automóveis constitui um encargo excessivo no orçamento das famílias, promovendo o seu sobreendividamento e/ou o não investimento noutros bens e serviços como formação, lazer, saúde, etc, e concentrando o benefício económico numas poucas grandes empresas relacionadas com a indústria automóvel,
  • a preservação do ambiente: a poluição e os gastos de energia e água causados pelo fabrico, uso e abate dos automóveis constitui uma externalidade do uso do automóvel, que é suportada por todos, mas desproporcionalmente pelos mais pobres, justamente aqueles com menor acesso ao automóvel; o acesso e uso facilitado do automóvel privado permite e incentiva usos do solo ineficientes do ponto de vista energético, de mobilidade, social e ambiental, ao encorajar a dispersão, a baixa densidade, e o monofuncionalismo – levando à destruição de território natural e arável para construir estradas e parques de estacionamento, e edifícios, à maior dependência de fontes energéticas não renováveis e sujas, perigosas e/ou destruidoras de habitat (petróleo, carvão, gás natural, nuclear, hídrica), e à competição entre espaço para circulação e estacionamento de automóveis e espaço para arborização e ajardinamento de ruas, parques infantis, parques e jardins urbanos, parques desportivos, passeios e vias para bicicletas, estacionamento de bicicletas, largos, praças, bancos, etc, etc, etc.

Saúde, economia, ambiente, cidadania, solidariedade social, está tudo inter-relacionado e em tudo isto a bicicleta pode desempenhar um papel importante. Mas não tenhamos ilusões, a nível de uso para transporte, a bicicleta só é uma solução, uma coisa positiva, se vier substituir o carro.

A bicicleta, mais ciclistas, mais bicicletas na rua não é um fim em si mesmo, é uma forma de conseguirmos a cidade que queremos: saudável, acessível, competitiva e próspera, segura, diversa, democrática, participada, viva, agradável. E essa cidade sofre actualmente com o excesso de automóveis privados. Conseguir mais viagens de bicicleta à custa de viagens a pé e de transportes públicos é fácil e inútil, contraproducente até (vai criar problemas antes inexistentes, a nível de estacionamento, por exemplo). Não se pretende “acabar com os carros”, nem diabolizá-los ou a quem os usa, pretende-se, sim, criar soluções para as pessoas se deslocarem de forma mais sustentável, e mais eficiente, deixando o recurso ao automóvel (quer a posse e depois o uso) como solução de excepção depois do andar a pé, de bicicleta, de TP, em carsharing e em carpooling.

A missão da Cenas a Pedal é, assim, promover e servir um estilo de vida baseado na bicicleta como veículo utilitário, e do dia-a-dia, mas não só, pois passear, viajar e brincar de bicicleta é bom para o corpo e para a mente (além de ser bom para estimular as economias locais sem causar impactos ambientais e sociais negativos). 🙂 (Não se trata de defender a bicicleta pela bicicleta, nem a bicicleta em exclusividade – há que tirar partido da polimodalidade!)

Um dia esperamos poder estar e ser na Cenas a Pedal só pelo gozo de andar de bicicleta, triciclo & Cia e partilhar esse gozo com os outros, sem a luta de afirmar e instituir a bicicleta como opção de transporte digna, válida e competitiva (além de cool e sexy, yeah!). O amanhã por que trabalhamos hoje, virá um dia, é preciso é que continuemos todos a trabalhar para isso, pois não vale a pena esperar que as coisas aconteçam, alguém tem que as fazer acontecer, e isso somos todos nós com as pequenas e grandes acções de todos os dias, à nossa escala.

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Clipping: “Curso Livre de Sobrevivência Rodoviária”

Desde 11 de Maio de 2011, o Curso Livre de Sobrevivência Rodoviária, está acessível a todos os cidadãos (basta fazer o registo no site para aceder a todos os conteúdos). Esta ferramenta foi projectada como um dos contributos da ACA-M para a Década Global De Acção Sobre Segurança Rodoviária 2011-2020, uma iniciativa da ONU e Organização Mundial de Saúde.

Ao longo dos próximos meses serão publicados os depoimentos e entrevistas dos técnicos que acederam a dar o seu contributo para este projecto de divulgação e formação na prevenção da sinistralidade rodoviária. Aceitei com muito gosto o convite do Luís Escudeiro para participar, e o meu contributo em vídeo já está no site. 🙂 Isto de ter uma câmara à frente é um bocado intimidante, mas o pior é começar, depois a coisa compõe-se um pouco. 😛

É um recurso de formação muito interessante, e de livre acesso. Conta com os contributos de vários actores na cena da segurança rodoviária: psiquiatras, técnicos de segurança rodoviária, professores, instrutores de condução, enfermeiros, engenheiros, investigadores, associações, autores, médicos, operadores de transportes públicos, etc.

Objectivos

Curso livre Sobrevivência Rodoviária

O lançamento da Década Global de Segurança Rodoviária 2011-2020 e o envolvimento da Associação de Cidadãos Auto-mobilizados (ACA-M) nesta iniciativa das Nações Unidas e Organização Mundial de Saúde (OMS), inspirou-nos para a criação de um curso livre sobre segurança rodoviária e prevenção da sinistralidade, nomeado Sobrevivência Rodoviária.

A ACA-M preocupa-se com a conflitualidade no meio rodoviário e com o número inaceitável e persistente de vítimas em território nacional, sendo também sensível ao alerta da OMS para o crescente número de vítimas a nível global. Este curso livre, a ser lançado no dia 11 de Maio, início da Década, pretende ser um contributo para o esclarecimento da opinião pública, através de informação e formação técnica sobre as causas da sinistralidade e as estratégias para a sua mitigação.

Editores e contribuidores, partilham uma visão (explícita para o público) sobre o que entendem por mobilidade sustentável, numa visão integrada de mobilidade para todos, segurança, responsabilidade cívica, espaços urbanos partilhados e ainda protecção da saúde e do meio ambiente.

Sendo o fenómeno da sinistralidade rodoviária um problema que envolve todos os sectores da sociedade, estamos a criar um programa abrangente que vai da prevenção à reabilitação e que deverá abranger todos os utentes da via pública.
Programa

Introdução e Princípios Gerais

Década Global de Segurança Rodoviária 2011-2020
Sinistralidade como epidemia
Automóvel para tudo
Mobilidade sustentável?
Automóvel: imobilidade e obesidade
Via pública: espaço partilhado
Cuidar das vítimas, lembrar os mortos

Segurança rodoviária

Educação Rodoviária
Politicas de Segurança Rodoviária
Investigação e prevenção de acidentes
Auditorias

Ambiente rodoviário

Urbanismo Sustentável
Integração/Segregação de tráfegos
Acalmia de Tráfego
O “Código da Rua”

Peões

Todos somos peões
Direitos dos peões
Passagens de peões e atropelamento
Crianças e idosos
Pessoas com mobilidade reduzida
Espaços partilhados

Condutores

Automóvel e sinistralidade
Condutores: cidadania e aprendizagem
Conduzir um automóvel eléctrico
Futuro eléctrico e sinistralidade
Condução defensiva?
Dicas de condução defensiva
Eco-condução
Usar menos o automóvel

Ciclistas

Andar de bicicleta em Portugal
Benefícios físicos e psicológicos do uso da bicicleta
Ciclovias, sim ou não?
Capacete obrigatório?
Bicicleta e articulação com transportes colectivos
Usar uma bicicleta eléctrica
Segurança para ciclistas

Trauma

Socorro das vítimas na estrada
Reabilitação
Apoio psicológico pós-traumático
O processo de luto

Vejam os vídeos e divulguem!