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Alô

Não, o silêncio não se deveu a férias, mas a muito trabalho. Continuamos por aqui. 😉

Amanhã temos aqui em Oeiras a Marginal Sem Carros. Não percam. 🙂 Nós também estaremos por ali, mas em trabalho…

Entretanto está a chegar ao fim a Semana Europeia da Mobilidade, aqueles 7 dias do ano em que muitos políticos e empresas concentram a apresentação das poucas iniciativas em prol da acessibilidade e da mobilidade sustentável que se viram levados a apresentar nesse ano, empurrados pelos protestos e pedidos dos eleitores ou dos clientes. É uma grande pressão para todos, têm que encher a semana de eventos e animações, o que leva a que qualquer coisa seja “integrada na Semana Europeia da Mobilidade”, incluindo passeios e actividades desportivas. É o chamado “encher chouriços”.

Relativamente ao transporte de bicicletas nos transportes públicos em Lisboa, algumas novidades:

A Carris vai duplicar o número de carreiras que, aos fins-de-semana e feriados, o aceitam. O Metro de Lisboa alargou em meia hora o período em que permite o transporte de bicicletas (agora a partir das 20h). A CP aboliu as restrições horárias nas linhas urbanas de Cascais e Sintra (o transporte não é proibido às horas de ponta, depende apenas de haver espaço).

Tudo medidas políticas, de “papel”, que podiam ter sido tomadas há muito mais tempo, e não adiadas (à custa de um melhor serviço aos clientes, mais cedo) para apresentar com pompa e circunstância na SEM no fim do ano… Estacionamento para promover e servir a intermodalidade, calhas nas escadas, ganchos/suportes/correias ou carruagens adaptadas, não, nada. Nada de iniciativa, todas as medidas são a reboque de lutas e pressão por parte dos clientes ou das modas emergentes indiciadas pela sociedade/cultura/media. Um nicho de mercado brutal, e no caso da CP, uma directiva europeia com data limite de 2010, e nada de proactividade.

Mas não, não sou ingrata, embora seja crítica. Muito obrigada, CP, Carris, e Metro Lx, pelos tímidos progressos que se vão fazendo! 🙂 Ainda esta semana pude usufruir disto na linha de Cascais. 😉 A alternativa pré-medida teria sido o carro…

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1000 euros para ir até Dakar e voltar

O Carlos e o Jorge, a dupla da odisseia “Até onde vais com 1000 €“, já regressou. Para manter o espírito do projecto, apanharam uma boleia final do aeroporto com a equipa de reportagem da RTP. 🙂

4 meses. 1000 euros. Lisboa – Dakar – Lisboa.

🙂

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O Record e o ciclismo vélo-couché

O bom jornalismo (not) apanha-se em todo o lado, os jornais desportivos não são excepção (o bold é meu):

Jorge Garcia tem 48 anos e demorou três horas a chegar a Neuchâtel. Vive em Lausanne, a 80 quilómetros, mas não se atrasou devido ao trânsito, mas porque veio numa bicicleta especial. Aliás, Jorge Garcia é especial: em 2005 foi campeão da Europa de vélo-couché, uma modalidade de ciclismo para atletas com deficiências motoras. Um grave acidente deixou-o incapacitado no braço esquerdo, mas não lhe matou o amor pelas modalidades velocipédicas.

[ver foto a acompanhar a notícia, no site linkado]

O jornalista não sabe o que são as bicicletas reclinadas (ou recumbent, em inglês, ou vélo-couché, em francês), deve estar a confundi-las com as handcycles, desenhadas para pessoas com pouca ou nenhuma mobilidade nas pernas (mas que também podem ser usadas por pessoas sem deficiência alguma, claro). A bicicleta deste homem tem uma alteração especial para que ele possa conduzi-la só com uma mão, mas não é o estilo reclinado que é para pessoas com deficiências motoras. Obviamente que nunca experimentou andar numa, ou perceberia imediatamente por que é que aquele tipo de bicicleta exige excelentes capacidades motoras! 😛

E a graçola de dizer que ele demorou 3 horas a fazer 80 km porque veio numa “bicicleta especial”, implicando que o tempo de viagem não se deveu ao facto de ele se deslocar de bicicleta, mas por ser uma bicicleta “especial”…? Que just happens to be uma reclinada, um tipo de bicicleta muito mais eficiente do ponto de vista de performance em velocidade. 😛 Devia ter dito é que “só não demorou mais tempo porque vinha numa bicicleta especial! 😛 Bom, a não ser que o percurso seja essencialmente urbano, com muitos carros, ruas e sinais (em que as reclinadas perdem vantagem)…

Bom, de qualquer modo, é sempre bom ver coisas diferentes a aparecer nos nossos media, one way or another, I guess… 😉

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5º Encontro Transportes em Revista

Na próxima 4ª-feira, dia 9 de Julho, em Lisboa, terá lugar o 5º Encontro Transportes em Revista, com o tema «transportes – factor de inclusão social». Será que a bicicleta será objecto do tempo de antena de algum dos oradores?…

5º Encontro Transportes em Revista

Tenho imensa curiosidade em saber se e como serão abordados e integrados os modos suaves na discussão de políticas e tendências do mercado dos transportes e da mobilidade…

A bicicleta pode ser usada como meio de transporte por crianças e adultos, jovens e velhos, desportistas e pessoas com necessidades especiais. Por quem tem carta e por quem não a pode ter. A bicicleta é um meio de transporte acessível a todas as classes sócio-económicas, a bicicleta como lazer ou desporto é algo que une pessoas de todos os quadrantes sociais e profissionais. A bicicleta é um meio de transporte individual que também pode ser colectivo (um mesmo veículo pode transportar várias pessoas), pode ser privado ou público.

A bicicleta permite optimizar e expandir o alcance dos transportes públicos, preenchendo as falhas da rede, integrando uma opção multimodal se houver serviços de estacionamento seguro de bicicletas nos interfaces e/ou um sistema de bicicletas públicas com estações nesses mesmos interfaces, ou usufruindo de facilidades a nível da co-modalidade quando os operadores ofereçam condições para as bicicletas serem transportadas nos comboios, metro, eléctrico, barco, avião, táxi e autocarros, ou caso se opte por bicicletas dobráveis.

A bicicleta pode ser usada para desporto, em lazer, ou para ir de A a B, pode servir para transportar coisas e pessoas e para servir de veículo de trabalho em negócios móveis (ex.: quiosques). A bicicleta junta numa praça comum novos e velhos, homens e mulheres, pobres e ricos, atletas e “couch potatoes“. Parece-me um modo incontornável num encontro de discussão sobre inclusão social. Esperemos que não seja a única a pensar desta forma… 😉

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Paradigmas

Notícia antiga, de 06/06/2008, da LUSA:

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, inaugurou hoje a “cidade da segurança”, montada na baixa de Águeda, onde as crianças circulam em pequenas viaturas e aprendem a respeitar as regras da condução. (…)

Além de ruas e sinais de trânsito, postos de abastecimento de combustível e oficinas para os pequenos carros motorizados em que as crianças são convidadas a circular, sob a orientação de monitores, existem também para os mais adultos representações comerciais de várias marcas automóveis, alguns dos quais híbridos.

Start them young… Não faria mais sentido ensiná-los algo útil para o presente deles: andar a pé pelas ruas, convivendo com outros peões e com carros e afins, andar de bicicleta – o único meio de transporte próprio a que podem ter acesso, a usar os transportes públicos,…?

O ministro acabou por participar na brincadeira, tentando pilotar um mini todo-o-terreno, mas poucos metros andou.

A incentivar logo a cultura dos SUV na cidade, nice

“Mais de quatro mil crianças são mobilizadas a participar nas várias actividades da cidade da segurança, para que possam vir a ser cidadãos mais responsáveis”, adiantou.

Promover a educação para a segurança e para o civismo é excelente, mas as crianças podem ser ensinadas para a sua realidade actual e não só para aquilo que serão daqui a 10 ou 15 anos… E porquê assumir que toda a gente será um condutor de automóvel no futuro? Parece ser considerado uma inevitabilidade da vida. 😛 A tendência é justamente a oposta!… Infelizmente, o paradigma actual dominante das acções de educação para a segurança rodoviária é o da criança-futuro-adulto-condutor-de-automóvel (e não condutor de moto ou de bicicleta ou de nada, simplesmente utilizadora de transportes públicos ou adepta de andar a pé). É a educação para o futuro (que pode ter efeitos positivos sobre o comportamento como condutores dos pais, como acontece com a educação ambiental e a reciclagem), negligenciando um pouco a educação para a criança-hoje-ou-amanhã-utilizadora-de-transportes-públicos-ou-passageira-em-automóveis-peão-e-utilizadora-de-bicicleta… Aliás, no final «as crianças participantes no projecto foram inscritas, gratuitamente, como associadas do Automóvel Clube de Portugal, e vão passar a receber correspondência com informações detalhadas relativas à prevenção e segurança rodoviária». E que tal inscreveram-nas também na FPCUB e na ACA-M?… Tudo isto parece-me… como promover o álcool junto de uma população de alcoólicos.


Notícia de 20/06/2008, no Barlavento online
:

«Bicicletas vão ganhar terreno em Faro»

(…) Em declarações ao «barlavento», o autarca precisou que os futuros corredores reservados a bicicletas vão, numa primeira fase, ser paralelos às vias existentes, o que irá obrigar «a um controlo máximo da velocidade automóvel».

«A perspectiva é criar uma zona específica e protegida, com sinalética própria, servida por um corredor com 2,20 metros e uma altura de dez centímetros», explicou o edil farense.

2,20 m parece bom para uma via bi-direccional destinada a velocípedes. O facto de estar desnivelada relativamente à estrada também é óptimo, tratando-se de uma via que se pretende segregada. No entanto…:

Mas nem só as bicicletas terão luz verde nestes corredores: pensados como espaços de «mobilidade amiga», os percursos vão igualmente estar reservados aos peões, o que dará ao projecto as características de um circuito de manutenção.

E está o caldo entornado. Primeiro porque traduz logo o conceito em causa: vias recreativas. O que é excelente, também precisamos delas. O problema é que em Portugal, com o nosso actual Código da Estrada, se houver uma destas vias para ciclistas estes são obrigados a circular por elas em detrimento da estrada normal ao lado. As vias são “obrigatórias para ciclistas”, não é como as vias do BUS, “reservadas” (o que implica que estes podem optar). Assim, neste novo cenário em Faro, alguém que use a bicicleta para se deslocar normalmente será forçado a ir pela ciclovia onde conviverão pouco alegremente peões e ciclistas. Isto tornará a viagem mais demorada e mais perigosa do que a opção anterior de seguir pela estrada (e aqui penso que se trata de estradas e ruas urbanas e não de Eixos Norte-Sul e 2ªs Circulares, em que qualquer alternativa é melhor).

De boas intenções está o Inferno cheio, não é o que se costuma dizer? Aplica-se neste caso. A Câmara de Faro, e o parceiro da UALG, o Centro de Investigação em Paisagem, Território e Urbanismo, parecem cheios de boas intenções, o que é louvável, mas aparentam carecer de conhecimentos práticos e até técnicos de como implementar soluções e promover a mobilidade em modos suaves, nomeadamente de bicicleta, fora do contexto recreativo… 🙁

Segundo um estudo apresentado por João Janeiro, um aluno finalista daquela universidade, Faro terá capacidade para, a longo prazo, desenvolver cinco tipos de redes cicláveis hierarquizadas, cuja malha mais importante coincide com o centro da cidade.

Resta esperar por mais informação para saber os detalhes destes “cinco tipos de redes cicláveis hierarquizadas”…