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TTT com acesso para peões e bicicletas?

Sem entrar na discussão acerca da incompreensível imbecilidade de construir mais outra ponte com vertente rodoviária numa era de racionamento de energia (já nem vou referir os problemas urbanos de congestionamento, poluição e usurpação de espaço público, etc, etc), é bom ver que há algumas vozes a alertar para algum bom-senso no meio da loucura:

Para José Mateus, a estrutura da ponte deve ter associado um sistema de aproveitamento da energia solar e do vento e ainda permitir que seja atravessa a pé ou de bicicleta.

Ao contrário das pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, que quando foram construídas estavam no limite da cidade, na opinião do arquitecto, a ponte Chelas/Barreiro vai ligar directamente o tecido urbano de Lisboa ao do Barreiro.

“As outras duas pontes foram auto-estradas construídas no limite da cidade mas esta é mais urbana e deveria constituir-se como um prolongamento dos espaços percorridos pela população“, afirmou à Lusa José Mateus.

“À semelhança da ponte de Brooklin, nos Estados Unidos, deveria ser percorrida a pé ou de bicicleta e não ser simplesmente uma via rápida ou auto-estrada constituindo-se assim como um prolongamento do que se passa dos dois lados”, explicou o arquitecto.

Esta ideia foi algo que chegámos a discutir com outros “activistas” no encontro de Janeiro.

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Médicos (e media) pouco profissionais

No seguimento do outro post dos lobbyists pró-obrigação do uso de capacete para todos, sempre.

«A importância do uso do capacete – Serviço de Pediatria do Hospital de S. Marcos de Braga (2006)»

Pérolas:

O uso de capacete é uma das medidas de segurança mais eficazes na prevenção de acidentes.

Ai sim? E como é que é isso? Se usar um capacete fico magicamente impedida de cair, de ser atingida por um carro ou uma mota, de atropelar um peão,…? Em termos de prevenção de acidentes o capacete é capaz de aumentar a sua frequência, até, nunca os impede!!

Estudos efectuados para avaliar a eficácia do uso de capacetes, demonstraram que, o seu uso pode prevenir cerca de 69% dos traumatismos crânio-encefálicos e 65% dos traumatismos da face.

Só se estiverem a falar de capacetes integrais!…

Outra:

«Capacete obrigatório para circular de bicicleta na via pública – Diário de Notícias (2007)»

Seja criança ou adulto; em competição ou a passeio. O Código de Estrada obriga ao uso de capacete a quem anda de bicicleta

Começa logo mal, afirmando que o capacete é obrigatório para ciclistas, quando não é!!

As novas regras de segurança – as que obrigam a proteger a cabeça e recomendam o mesmo para os joelhos e cotovelos – (…)

Mas de que raio estão eles a falar? Quais novas regras?

O capacete é frequente nas viagens de motorizada, mas a preocupação abranda com as bicicletas. Esta despreocupação não se compreende. O Código de Estrada exige capacete para circular de bicicleta pela via pública.

E eles a darem-lhe…

(…) as regras de segurança não se devem ficar apenas para quem circula na estrada. O uso do capacete deve manter-se quando se brinca de bicicleta no jardim. Até porque dizem os números que a grande maioria dos acidentes com crianças acontece em casa.

Yah, e quiçá andamos todos, crianças e adultos, 24 h / dia de capacete, luvas, cotoveleiras e joelheiras em casa ou onde quer que seja? Na banheira?

Mas que psicose, fogo!

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Pós-Expo FCT

Foi um dia muito bem passado, a “vestir camisolas” com orgulho: a da Cenas a Pedal, a de promotores de “cenas a pedal” e a da FCT-UNL, a minha “casa” durante vários anos. 😉 E olhem que giro, uma foto dos karts KMX foi usada para ilustrar o evento num artigo publicado no Jornal de Notícias! 🙂

Expo FCT 2008 KMX Karts ilustram notícia sobre a Expo FCT no Jornal da Notícias
[Mais fotos aqui.]

E também apareceram na reportagem sobre o evento emitida pela RTP a 05/04/2008:

Não tive oportunidade de explorar muito os eventos no campus (estava a trabalhar, afinal de contas), mas gostei de ver uma experiência nova relativamente ao ano passado, da Quercus, que usava bicicletas para educar sobre energia:

Expo FCT 2008 Expo FCT 2008

O campus foi visitado por mais de 4700 pessoas no dia da Expo FCT, 4 de Abril. Uma loucura! 🙂

Alguns tiveram a sorte de poder experimentar e curtir um pouco de KMXing, além de uns test drives da Mobiky Genius. 🙂

Para o ano há mais, espero! 😉

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Estão a prepará-la…

A única “revista de bicicletas” que temos em Portugal, a Bike Magazine, admitiu a sua política de apoio à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas, numa resposta a uma carta de um leitor, na edição de Março de 2008:

(…) claro que somos completamente a favor da obrigatoriedade da utilização do capacete, e esta terá de certeza resultados práticos, principalmente na comunidade de ciclistas de estrada e dos utilizadores de ciclovias.

Resta saber que “resultados práticos” serão esses. Para o BTT (o público alvo da revista) reconhecem o maior valor da sensibilização:

(…) Quando falamos no BTT, a sensibilização poderá ter um papel ainda mais importante do que a legislação, porque este desporto pratica-se em locais onde a fiscalização é praticamente impossível. (…)

Posição da revista BIKEmagazine quanto à obrigatoriedade do uso de capacete por ciclistas

A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) também defende esta posição:

E: A APSI conseguiu que as cadeirinhas nos carros fossem obrigatórias, bem como o uso de capacete para crianças que viajem nas bicicletas dos adultos. Há mais exigências a curto e médio prazo?

SN: (…) Em carteira, temos a obrigatoriedade do uso de capacete para ciclistas. (…)

No documento “Child Safety Report Card 2007 – Portugal” apresentam como uma das «medidas necessárias»:

Aumentar a segurança dos ciclistas através da introdução e cumprimento da lei da obrigatoriedade de uso de capacete para todas as idades.

Mais à frente na secção de «avaliação do progresso» são apresentadas as medidas de «segurança dos ciclistas»:

report-card_pt_ciclistas.jpg

Quanto à Prevenção Rodoviária Nacional… Encontrei o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária, de Março de 2003, do Ministério da Administração Interna. Para «maior segurança para os utentes dos veículos de 2 rodas», sugerem 3 tipos de medidas:

a) – Medidas Legislativas

a.3 – Promover o uso de capacete de protecção pelos utentes de veículos de duas rodas sem motor bem como a obrigatoriedade de colocação de reflectores nesse tipo de veículos.

b) – Medidas de formação/sensibilização

b.5 – Sensibilização para os benefícios da existência de seguro de responsabilidade civil para veículos de duas rodas sem motor.
b.6 – Organização de acções de sensibilização para os comportamentos mais adequados e/ou para o estabelecimento de boas relações entre os condutores de veículos de duas rodas e os automobilistas;
b.7 – Produção de materiais de apoio para jovens do 2o ciclo do ensino básico bem como para pais e professores com vista à educação rodoviária dos jovens como ciclistas;

c) – Medidas estruturais

c.3 – Criação de estruturas rodoviárias para veículos de duas rodas sem motor, tendo em conta aspectos como o lazer ou a sua utilização diária para pequenas deslocações (ex: casa-trabalho).

Resumindo: recomendar o uso de capacete, obrigar ao uso de reflectores nas bicicletas, divulgar as vantagens de ter um seguro de responsabilidade civil, organizar acções para fomentar o bom relacionamento entre ciclistas e motoristas, educar os jovens ciclistas (até ao 9º ano) através de panfletos e afins, construir ciclovias para lazer e commuting.

Serei só eu que vejo aqui um problema de fundo?…

IV.6.B – Capacete de protecção

IV.6.B.1. – Justificação
(…) No que respeita aos ciclistas, estudos indicam que em caso de acidente, a utilização de um capacete de protecção apropriado reduz a probabilidade de lesões na cabeça entre 45% e 85%, e que a probabilidade de morrer em consequência das lesões sofridas é cerca de 20 vezes menor.

IV.6.B.2. – Objectivos
(…) Não sendo um hábito a utilização dos capacetes de protecção por parte dos ciclistas, é objectivo principal promover a sua utilização, iniciando a sistematização do seu uso por parte das crianças, e estudando a possibilidade de o tornar obrigatório, a partir do momento em que, pelo menos 30% dos ciclistas já o utilizem.

IV.6.B.3. – Caracterização da situação actual
(…) Quanto aos capacetes para ciclistas, não existe nenhum normativo que obrigue ou que incite a sua utilização, já por si muito reduzida.

IV.6.B.4. – Medidas propostas
(…)
– Campanhas de sensibilização para o uso de capacete de protecção para ciclistas.

IV.6.C – Material retroreflector

IV.6.C.2. – Objectivos
– Conseguir a utilização regular de material retroreflector por parte de cerca de 50% dos peões, sempre que circulem à noite fora das localidades.
(…)
– Tornar obrigatória a retroreflectorização de velocípedes e conseguir a instalação efectiva do equipamento regulamentar em, pelo menos, 80% destes veículos.

IV.6.C.3. – Caracterização da situação actual
A legislação existente não estipula a obrigatoriedade do uso de dispositivos retroreflectores nos peões e ciclistas, pelo que o seu uso é quase nulo. A sensibilidade para a importância da utilização dos dispositivos retroreflectores é quase inexistente, e a disponibilização nos circuitos comerciais é igualmente muito fraca.

IV.6.C.4. – Medidas propostas
– Campanhas destinadas a promover a utilização de equipamentos retroreflectores por parte de peões e ciclistas.
– Alteração legislativa que torne obrigatória a retroreflectorização da bicicleta.
(…)
– Fiscalização da não utilização dos equipamentos retroreflectores tornados obrigatórios.
– Acções destinadas a promover a disponibilidade de materiais retroreflectores de qualidade nos circuitos comerciais e promoção da sua distribuição gratuita às crianças e aos idosos, nomeadamente aos que têm a necessidade de deslocações nocturnas.

Depois há outro documento, o do “PROGRAMA DE ACÇÕES 2003 / 2005“, anexo ao anterior. E este começa com a secção «EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO», e indica os objectivos da «educação rodoviária de crianças e jovens»:

Privilegiar a abordagem de conteúdos relacionados com as temáticas “Velocidade”, “Peões”, “Cintos de segurança e Sistemas de retenção para crianças”, “Ver e ser visto” e “Capacetes para ciclistas” nas práticas educativas a desenvolver junto das crianças e jovens das várias fases etárias.

A educação dos ciclistas resumir-se-á ao uso de capacete?…

I.1.3.3. – Ciclistas

a) No 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico

Reconhecer os ciclistas como utentes vulneráveis;
Compreender a utilização do capacete como um factor que contribui para a redução dos traumatismos cranianos;
Reconhecer a influência da noite na segurança da circulação dos ciclistas;
Reconhecer a necessidade de utilização de material retroreflector.

Foco nas medidas de segurança passivas: capacete, luzes e reflectores; not a word on real education!… E é só até aos miúdos do 9º ano, enquanto que as outras acções englobam os alunos até ao 12º…

Só as motas têm previsto acções de formação em condução, as bicicletas não são incluídas. Só as referem para falar dos capacetes.

Promover a prática de condução defensiva e de aperfeiçoamento de condução para os condutores de motociclos/ciclomotores (2 rodas é preciso duas vezes mais competência).

Cada vez é mais óbvio para mim que precisamos de agitar as águas nesta área… Aliás, acho mesmo que se devia destapar o ralo, deixar sair esta água e começar a encher com outra, fresca e limpa. 😛

E agora vocês perguntam: “mas porquê”? E eu gostava de vos responder, mas esse post ainda vai ter que esperar, pois o dia só tem 24 horas e o que eu tenho para fazer parece precisar sempre de 48… 😛 Sorry! Por exemplo, este post já estava semi-escrito há umas 4 semanas e só agora me consegui obrigar a terminá-lo, embora tenha abdicado da justificação da minha opinião e dumas outras coisinhas mais, por falta de tempo… 🙁

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Amolador by bike, em Santarém

Outra história de um dos últimos amoladores.

Manuel da Silva, 62 anos, puxa a bicicleta ferrugenta pelas ruas de Santarém soprando na gaita-de-beiços para chamar os clientes

Manuel da Silva, 62 anos, puxa a bicicleta ferrugenta pelas ruas de Santarém soprando na gaita-de-beiços para chamar os clientes. Dizem que quando os amola-tesouras tocam é sinal de que a chuva está para vir. A manhã está fria e o sol espreita por entre os prédios do centro histórico. Não há sinais de chuva nem de clientes. Já lá vai o tempo em que amolar facas, navalhas da barba, tesouras era um negócio que dava para viver. Agora vai dando para o tabaco e pouco mais.

Aprendeu a profissão com o pai há cinquenta anos, mas nem sempre se dedicou à arte. Quando era mais novo trabalhava numa saibreira em Amiais de Cima agarrado à picareta várias horas por dia. Nas horas livres fazia uns biscates como amola-tesouras para arranjar mais dinheiro para as despesas da casa. Manuel da Silva mora no Jardim de Cima, arredores de Santarém, e vai percorrendo algumas terras da região à procura de costureiras que ainda são aquelas que lhe vão dando algum trabalho numa época em que se refere comprar uma faca ou uma tesoura nova que amolar a velha.

Mais uma sopradela na gaita, mais uns passos lentos. Um corno pendurado no guiador vai balançando suavemente. É para afastar a inveja, mas também há uns anos tinha uma missão. Era cheio com água onde se arrefeciam as navalhas da barba quando estavam a passar na roda de amolar. A bicicleta já tem quarenta anos e foi comprada já equipada com a roda de amolar junto ao guiador movida pela força das pedaladas através de uma corrente cheia de óleo. Manuel da Silva é dos últimos resistentes de uma profissão que está em vias de extinção. Os filhos não quiseram aprender um ofício em que tem que se andar muitos e muitos quilómetros até se ganhar às vezes apenas cinco euros.

[Fonte: O Mirante]