As crianças precisam de brincar. Bolas, os adultos precisam de brincar, quanto mais as crianças!
Infelizmente, nas últimas décadas fomos construindo um mundo, uma sociedade, uma cultura, em que as crianças levam uma vida de reclusas. Reclusos bem tratados e cheios de actividades de suposta estimulação, mas ainda assim reclusos – não têm a liberdade de explorar o mundo como desejam e precisam. De estar ao ar livre e fora de portas, de explorar o meio físico em que se encontram, de se aventurarem, de perseguirem os seus próprios interesses e paixões, de correrem riscos, de aprenderem a gerir emoções, interesses, frustrações, sonhos, riscos. Há sempre adultos a dizerem-lhes o que fazer, com o que brincar e como, e quando, e até com quem. Isto é mau agora, e terá um preço a pagar no futuro.
Como nós brincámos muito, tivémos a liberdade de andar na rua e brincar como bem nos apetecia, sabemos o bem que soube, e o bem que nos fez. E lamentamos ver tantas crianças privadas desse privilégio, em nome de uma ilusão de segurança e competitividade.
Como andar de bicicleta tanto pode ser uma brincadeira como um meio de transporte, e enquanto meio de transporte continua a ter muito de brincadeira, e é uma ferramenta importante a nível de desenvolvimento psicomotor, nós fomos lá promover isso mesmo. Levámos bicicletas familiares para mostrar ao público, e por vezes os test rides funcionaram como uma espécie de “volta no carrocel”. 🙂 E andámos também a dar dicas aos pais de como podem ajudar os filhos a largar as rodinhas (explicando que na Escola de Bicicleta ensinamos isso e tudo o resto!).
Haviam várias actividades para estimular a brincadeira, inclusivé uma área de brincadeira livre, dos 1, 2, 3 macaquinho do xinês, onde apanhámos o prof. Carlos Neto, da FMH, a brincar também, por uns instantes. 🙂
Se não ouviram ainda falar dele, espreitem aqui, onde ele faz notar que as crianças hoje são como animais em cativeiro, aqui, onde ele alerta para o crescente analfabetismo motor dos miúdos (algo que nós próprios fomos notando ao longo dos anos nas nossas actividades com os karts KMX e com as aulas e afins) e aqui, onde ele fala do sedentarismo e da organização do território e do trabalho, por exemplo. E têm também estes vídeos, no âmbito do Dia de Aulas ao Ar Livre, que já chegou a Portugal!
Entretanto, precisamos de Um Novo Conceito de Parque Infantil. We need Rethinking Childhood, we need Freerange Kids, we need riskier playgrounds! E precisamos de menos carros na cidade, se reduzirmos o número e velocidade dos carros, aumentaremos o número de crianças na rua, seja a brincar, a caminhar, a andar de bicicleta, etc. É o volume, velocidade, hipermobilidade e anonimato dos carros que gera o medo da rua.
Libertemos as crianças! E, no processo, libertemos também os adultos, novos e velhos. 😉
A revista britânica Velo Vision foi, em 2005/2006, um dos fortes catalisadores para a nossa entrada no mundo da bicicleta como ferramenta de transporte, lazer e diversão.
Num simples conjunto de folhas ilustradas com vívidas fotografias e detalhadas descrições de bicicletas e triciclos menos habituais por Portugal, descobrimos um mundo de veículos movidos a pedal que até ali desconhecíamos.
Peter Eland, criador da revista em 2000, decidiu ao fim de 15 anos e 48 edições, passar o testemunho a outra pessoa. E foi em 2015 que esta passou para as mãos de Howard Yeomans. Howard já tinha escrito vários artigos para edições publicadas por Peter, e publicou nesses últimos 2 anos mais 4 edições.
Foi com tristeza que recebemos há umas semanas o anúncio que a produção da Velo Vision iria terminar.
Embora este fim signifique que o estado atual do mundo das [bi/tri/etc]cicletas utilitárias e fora do comum deixe de ser cristalizado 2 vezes por ano em forma impressa, e que deixaremos de poder ficar em pulgas para ler a reportagem anual com as novidades da SPEZI, temos confiança que outros canais de divulgação ocuparão o lugar deixado pela Velo Vision.
Como gostaríamos de poder contagiar-vos e inspirar-vos tal como nos aconteceu, pedimos ao Howard a possibilidade de partilhar online, gratuitamente, todas as edições da revista em formato digital (PDF). Assim, podem aceder neste arquivo aos 52 números da revista Velo Vision. [Ligação atualizada em 11/20!]
Podemos também anunciar que esperamos conseguir colmatar este ano a falta de reportagem da SPEZI, fazendo-a o mais em direto possível, caso as condições técnicas estejam asseguradas. Por isso, se alguém souber de uma forma de ter um acesso à Internet em roaming, rápido e sem limites muito reduzidos, agradecemos desde já qualquer sugestão.
Por isso, lamentamos que a Velo Vision não continue, mas celebramos a sua existência, e aquilo que proporcionou e proporciona aos seus leitores.
Andar de bicicleta no Inverno, em Portugal, não é para todos, é só para quem sabe. Para quem sabe que a bicicleta continua a dar o mesmo gozo, a mesma flexibilidade e a mesma rapidez às nossas deslocações quotidianas. Se é daqueles que arruma a bicicleta mal antecipa os primeiros chuviscos ou sente a temperatura abaixo dos 20 ºC, continue a ler.
Lidar com (e aproveitar) o frio
O frio é um aliado do uso da bicicleta, e a bicicleta é um aliado do combate ao frio. Pedalar mantém-nos quentes, e o frio impede-nos de transpirar sequer. É perfeito!
Ir de bicicleta nos dias frios, em vez de nos enfiarmos dentro de um carro, ajuda-nos a chegar ao destino mais despertos, estimula a nossa imunidade natural, combate a vaso-constrição sanguínea provocada pelas baixas temperaturas, garante-nos algum sol no dia-a-dia (essencial para a vitamina D e para regular o nosso humor) e mantém-nos longe de ambientes propícios ao contágio de gripes e afins. Mantendo-se todas as outras vantagens que já conhecemos e que temos ao pedalar no Verão.
Para a experiência ser positiva é essencial sabermos vestir-nos para a ocasião, e há duas regras:
optar por várias camadas finas em vez de só duas ou três grossas, e
arrancar equipado a pensar não no minuto zero mas no minuto 4 ou 5 em diante.
Com isto conseguimos manter-nos sempre confortáveis no início, durante e após a pedalada, pois é fácil e rápido ajustar as camadas à situação. De resto, particular atenção aos pés, mãos e cabeça – meias quentes (ou camadas delas), luvas oferecem conforto e asseguram que os nossos dedos funcionam como deve ser em caso de necessidade de travagem, e um gorro e/ou um tubular mantêm-nos confortáveis. Para proteger a pele do vento frio, além do tubular, é boa ideia aplicar um creme ou óleo no rosto antes de sair. Da mesma forma, uns óculos aumentam o conforto (evitam o lacrimejar causado pelo vento frio).
Finalmente, em Portugal as temperaturas são bastante amenas, pelo que mesmo no Inverno o frio não nos estraga a experiência (desde que tenhamos tido os cuidados acima referidos).
Aceitar a chuva (sem nos molharmos)
No Inverno a chuva complica todas as formas de transporte, e o maior recurso ao automóvel agrava os congestionamentos. Face ao carro, a bicicleta é muitas vezes porta-a-porta(não andamos a pé com o guarda-chuva), e de tempos de viagem quase constantes (não ficamos presos no congestionamento), tornando-se ainda mais competitiva.
A chuva não impede de chegarmos onde temos que chegar, por vezes mais secos até do que se fôssemos de carro, e a horas. Não há mau tempo, só mau equipamento!
Para estarmos seguros de que chegaremos secos e apresentáveis basta termos equipamento adequado. Na verdade, muitas vezes não o chegamos a usar, basta aguardar 5 minutos e já a chuva parou. Mas para não estarmos dependentes disso e garantirmos fiabilidade à bicicleta como opção principal de transporte, o equipamento – adequado e sempre à mão – é essencial.
A oferta de vestuário é diversificada e as preferências e contextos pessoais levarão a escolhas diferentes de pessoa para pessoa. O que interessa frisar é que há soluções para nos cobrir dos pés à cabeça e proporcionar uma viagem confortável, mantendo-nos impecavelmente secos. Hoje em dia já há oferta de vestuário para a chuva pensado para uma utilização urbana quotidiana, ou seja, mais discretos e com um aspecto de roupa do dia-a-dia, inclusive modelos desenhados especificamente para mulheres.
Da mesma forma, há capas impermeáveis para o selim (para não voltarmos para um selim molhado) e sacos para a bicicleta totalmente impermeáveis, mantendo a nossa bagagem seca e segura.
O conselho das várias camadas finas, aplicáveis ao frio, aplicam-se também com chuva. É preferível ter impermeáveis fininhos e ajustar o conforto térmico com as camadas de roupa normal, do que ter um impermeável quente que não dê para regular – começamos a suar e ficamos molhados, mas não da chuva, principalmente se comprámos coisas “não-respiráveis”. Vale a pena investir logo em bom equipamento, sai mais barato!
Finalmente, é normal que leve algum tempo até descobrirmos a combinação ideal para nós. É importante não desistir à primeira e ir experimentando diferentes soluções e diferentes combinações até encontrarmos aquela que funciona para nós.
É importante pendurar os impermeáveis molhados quando chegamos ao destino, não só porque eles não devem ser guardados molhados durante muito tempo, mas também porque os queremos o mais secos possível para quando voltarmos a sair.
E claro, antes de mais, precisamos de “vestir” a bicicleta se ela não veio já equipada: pára-lamas e uma protecção de corrente são essenciais para não nos sujarmos. A escolha de pneus para o Inverno também pode ser diferente.
De notar que a roupa impermeável não nos protege apenas da chuva, também evita que nos molhemos e sujemos com a água salpicada (pelos pneus) e projectada (quando passam por poças de água sem cuidado connosco) pelos automóveis que passam por nós.
Ajustar a condução à chuva
O tempo chuvoso não é, ao contrário do que se poderia pensar, uma altura particularmente perigosa para andar na estrada. Isto é porque a maior parte dos condutores tem noção do risco acrescido e adapta a sua condução de acordo. A grande maioria dos sinistros rodoviários ocorre de dia e com bom tempo porque os riscos são menos óbvios. De qualquer modo, nós próprios devemos ajustar a nossa condução.
Boas luzes são essenciais e recomendam-se mesmo durante o dia quando chove.
É de evitar passar por cima de poças de água, mas se for inevitável, que seja devagar – não sabemos o que a água esconde, e no inverno aparecem buracos de um dia para o outro.
Há que redobrar cautelas perto de elementos escorregadios quando molhados, como tampas de esgoto, tinta das passadeiras, folhas, calçada, etc. Não travar nem curvar em cima deles.
A nossa posição na via de trânsito deve ser, como sempre ou ainda mais, assertiva, circulando no centro da mesma para maximizar a capacidade de:
vermos bem e cedo o piso e o trânsito à nossa frente,
sermos vistos cedo pelos outros condutores e de forma clara,
comunicarmos inequivocamente a necessidade de, a ultrapassarem-nos, o fazerem usando a via adjacente em vez de dividirem connosco aquela em que circulamos, e
mantermos uma bolha de segurança à nossa volta adequada às circnstâncias, que nos dê tempo e espaço de manobra para imprevistos e erros.
Em tempo escuro e molhado há menos contraste visual, e há mais ruído visual devido aos brilhos e reflexos da água. O campo de visão reduz-se para quem conduz um carro e para quem conduz uma bicicleta (mais não seja por causa do capuz do casaco impermeável, por exemplo).
E a velocidade deve ser reduzida para compensar a menor eficiência e segurança na travagem com piso molhado, claro.
Moldar um novo hábito
Todos os acessórios de Inverno devem ser mantidos, em permanência, na própria bicicleta (no “saco da tralha fixa”, onde incluímos os cadeados, por exemplo), ou logo ao lado dela. Tudo sempre à vista e à mão, num só local, fixo. Assim, sair de casa não envolve perder tempo e energia a pensar no que levar ou onde estão as coisas.
Um truque para começar é adoptar a estratégia dos mini-hábitos. Começar devagar, com coisas pequenas, que não intimidem, e ir progredindo lentamente. Nas primeiras vezes se calhar só vestimos o equipamento mas nem chegamos a sair de casa. Depois começamos a sair em pequenas deslocações em tempo frio e seco, depois experimentamos com chuviscos, e por aí fora, até sair mesmo para debaixo de uma carga de água ser perfeitamente automático.
Quem anda à chuva molha-se
Às vezes, raramente, esquecemo-nos do equipamento e molha-mo-nos um bocado (ou muito, numa daquelas cargas de água a sério). Mas é só água. O banho quente quando chegarmos a casa vai saber-nos muito melhor que nos outros dias. E o gozo de andar à chuva e sentir as pingas no rosto e já não nos importarmos com nada, e rirmo-nos como quando éramos miúdos, tudo a rolar numa bicicleta… bom, isso não tem preço, nem igual.
Este texto, ou uma ligeira adaptação dele, foi publicado originalmente no Diário de Aveiro, a convite da Ciclaveiro.
Vá lá, não restam desculpas. E a cena fixe é que, andar de bicicleta no Inverno é espectacular, depois de se experimentar e atinar com estes detalhes, não se quer outra coisa. 😉
É isso mesmo, desde Outubro deste ano que promovemos passeios de bicicleta semanais. A ideia é haver mensalmente um mix de passeios e microviagens para diferentes públicos.
Estão pensados para servir primeiro e fundamentalmente os principiantes e as famílias com crianças, mas não nos ficamos por aqui (até porque não se fica principiante para sempre!).
Queremos passeios para conhecer a cidade, para ligar bocados que nunca ligámos, para conhecer e conviver com outros adeptos da mobilidade em bicicleta, e queremos sair da cidade, explorar o resto do país, que tem tantos sítios bonitos por onde pedalar. 🙂
Vamos conhecer parques e jardins, ciclovias e ecovias, novas rotas, e pontos interessantes (desde miradouros, museus, lojas, cafés e restaurantes, exposições, galerias, etc, etc).
Não são passeios desportivos, são passeios turísticos / culturais! Não é preciso roupa diferente da casual do dia-a-dia, nem equipamento especial nem bicicletas racing. E por ser em grupo, acomodam pessoas com níveis de experiência e habilidade na bicicleta abaixo do que seria recomendado se fossem sozinhas. São uma espécie de Massa Crítica mas sem a carga política e activista.
E para lançar a ideia e ensaiar o modelo, até Março de 2017 os passeios são de acesso gratuito, e abertos mesmo a não membros da Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal, basta registar-se na página de cada um (para permitir comunicar o que for preciso!). É de aproveitar! 🙂
Como saber que passeios vamos ter em cada mês? O mais simples é subscrever a nossa nova newsletter, claro. Esta newsletter tem uma regularidade mensal e serve para divulgar eventos, promoções e novidades variadas, avisar de alterações de horários ou moradas, e partilhar a agenda de eventos da Escola de Bicicleta (passeios, workshops, etc).
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