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Andar de bicicleta é como voar

Finalmente acabei de ler o “The cyclist’s manifesto: the case for riding on two wheels instead of four“, do Robert Hurst. Muitas coisas interessantes, mas deixo aqui uns trechos do final.

A opção pela bicicleta em detrimento do automóvel nas nossas deslocações, naquelas em que seja mais viável, é escolher viajar num modo que acrescenta vida em vez de a tirar. Como dizia o lema da Xtracycle, “it’s not about going faster, is about going better“, a questão não é ir mais depressa, é ir melhor.

O autor lembra que os humanos precisam de exercício da mesma forma que precisam de sono, comida, e aventura. E aqui não se trata de desportos radicais, nem de explorações na floresta amazónica. É o sentirmo-nos vivos, é estarmos abertos ao imprevisto, abertos ao mundo, é sentirmo-nos livres. E aqui a bicicleta é a solução perfeita para integrar exercício e aventura num dia-a-dia urbano pacato.

Essa aventura está também intimamente ligada à sensação oferecida pela condução da bicicleta. Andar de bicicleta é um pouco como voar.

Ilene Black

Mergulhar numa curva numa bicicleta oferece uma deliciosa sensação de flutuação. O corpo move-se pelo ar, suspenso acima do chão numa estrutura mínima de aço e rodas. A flutuar no ar, ou pelo menos em pneus cheios de ar. A máquina em si, se for uma bicicleta leve, constitui uma pequena parte do peso total do sistema bicicleta-condutor. O veículo é composto essencialmente pelo condutor, que se inclina numa curva como o faria um pássaro. Esta sensação é exclusiva da bicicleta. Não está ao alcance dos condutores de veículos de 4 rodas; eles gozam outro tipo de prazeres, claro, mas não este. Não está sequer ao alcance dos motociclistas. Devido à comparavelmente imensa massa da máquina e o baixo centro de gravidade, uma mota numa curva oferece uma sensação muito menos dinâmica e vívida que uma bicicleta.

A bicicleta salpica o nosso quotidiano de aventura acessível, razoavelmente segura, barata, e enriquecedora. O nível de aventura é controlado por nós, o esforço, o risco, a velocidade. Pode ser cheio de adrenalina ou pode ser a coisa mais pacífica do mundo.

O pico do automóvel está aí.
As pessoas andam literalmente fartas de andar de carro, de passar pela vida sentadas e imóveis, fechadas dentro de uma carapaça cada vez mais desligadas do mundo exterior, a vê-lo por detrás de um pára-brisas, enquanto sentem corpo e espírito a atrofiar, a adoecer. A bicicleta está aí para ser redescoberta como a maneira mais simples, prazenteira, eficaz, económica e “verde” de revolucionar a vida de cada um, de a tornar, efectivamente, melhor.

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De bicicleta pró festival

O Cristiano passou cá no ateliê no último fim-de-semana para trocar o guiador da sua Btwin por um Contest Comfort da Humpert, bom para viagens mais longas porque oferece uma escolha variada de posicionamento das mãos.

Novo guiador

Novo guiador

Falou de uma viagem. Agora descobrimos qual, foi de bicicleta até ao Festival Super Bock Super Rock. E relatou a experiência no Jornal de Notícias, aqui.

Cristiano Pereira, JN
Foto: Cristiano Pereira / Jornal de Notícias

🙂 Bikes rock. Só falta mais gente perceber isso. Todos os festivais deviam ter estacionamento VIP, pra bicicletas. 😉

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Das [micro-]empresas

A malta queixava-se de que o nosso ateliê estava muito incognito, pelo que resolvemos atenuar ligeiramente a coisa afixando um placard por cima dos azulejos onde figurava ainda o nome dos últimos inquilinos do sítio. 😛 Pelo que para já a Cenas a Pedal está sinalizada assim:

A blast from the past

Quando estamos no ateliê e ninguém estacionou o carro ilegalmente a barrar a passagem frente ao portão, a bakfiets está lá (normalmente deixando espaço ao lado para entrarem e saírem de bicicleta) a dizer “presente, aqui!” por nós.

A blast from the past

Somos uns sentimentalões, nós. 🙂 E adeptos dos 3R’s. 😉 Este placard é especial, fazia parte do nosso stand na primeiríssima feira/evento em que expusémos/participámos, nos idos de 2007, o I Salão de Evasão & 4×4 de Oeiras.

CaP's booth

No final da feira, pedimos para ficar com o placard, e guardámo-lo até hoje. 🙂 É engraçado lembrarmo-nos dos primeiros tempos, em que tudo era novo para nós. Continuamos a desbravar caminho, e a partir muita pedra, não é fácil aprender a fazer uma empresa sozinhos, ainda mais sem ter formação académica na área (um vem da informática e outro da biotecnologia), e sem nunca ter feito a mesma coisa numa empresa de terceiros (como é mais normal entre os empreendedores empresariais), e entrar numa área nova, até criar uma área nova. Mas para compensar a angústia de não saber como as coisas funcionam e “como se fazem as coisas“, tivémos a oportunidade de fazer as coisas à nossa maneira, como achámos que fazia sentido, sem estarmos formatados nem condicionados pela forma como os outros faziam as coisas (até porque não havia ninguém a fazer exactamente o que nós queríamos fazer!). Depois lá fomos aprendendo através da observação dos outros e da experiência própria, e afinando a nossa maneira de fazer as coisas. A aprendizagem e a afinação é, de resto, permanente. Mas aquela nossa ingenuidade inicial foi o que permitiu à Cenas a Pedal ser a Cenas a Pedal, única, original, autêntica.

O caminho faz-se caminhando. Os amanhã fazem-se hoje. Trata os outros como gostarias que te tratassem a ti. São estes os principais lemas que nos orientam no nosso caminho.

Nós, entre os dois, fazemos tudo na CaP, e muitas vezes as pessoas não têm noção que estão a lidar directamente com os donos da mesma. Recentemente, num serviço de aluguer sub-contratado, uma monitora do cliente comentou “que sorte” ao saber que o Bruno, a trabalhar como monitor nesse serviço e um tipo novo, era o dono da empresa. Aqui estão duas ideias pré-concebidas, mas erradas, muito comuns: 1) que as coisas acontecem por sorte, e 2) que ter uma empresa implica ter uma boa vida.

(A não ser que seja herdada) termos uma empresa própria onde desenvolver o trabalho que queremos nos termos que queremos, não é fruto da sorte (embora esta jogue o seu papel), mas de muito, muito trabalho, e muito sacrifício pessoal. Ter uma empresa não significa ser patrão (nós não temos empregados), e ter uma empresa (e mesmo ser patrão) não significa ganhar bem nem trabalhar pouco como a malta sonha. Para a generalidade das micro-empresas (com até 9 trabalhadores), e mais ainda para as “nano-empresas” como nós (2 pessoas!), principalmente nos primeiros anos de vida, significa precisamente o contrário, ganhar pouco, às vezes nada, e trabalhar muito. A recompensa não é financeira, é a de ter a oportunidade de criar algo, de mudar o mundo, de fazer diferente, de deixar um legado. E também de poder dispôr do seu tempo, quando dá…, e de seguir a sua própria ética, e quem sabe um dia conseguir ter algum património construído para um “rainy day” (o equivalente às poupanças dos trabalhadores por conta de outrém). O dinheiro tem que dar para pagar as contas (um grande feito, normalmente!), e com sorte sobrar algum para reinvestir na empresa, para a manter sempre actualizada e em evolução positiva (parar é morrer!).

Outra ideia pré-concebida comum e totalmente errada é confundir empresas com lucro e entidades sem-fins lucrativos com ausência de lucro. E, claro, assumir os primeiros como uns sacanas gananciosos que só fazem o que der dinheiro, tudo o que der dinheiro, e porque dá dinheiro, e os segundos uns anjinhos altruístas e abnegados que trabalham de graça por uma causa maior. Isto enerva-me solenemente, porque é uma caricatura.

Era bom que ter uma empresa implicasse ter automaticamente lucro, mas isso é raro (a não ser que não paguem impostos, a SS dos empregados, os fornecedores, etc…). E era mau que as entidades sem fins-lucrativos nunca tivessem lucro, não poderiam crescer e expandir a sua [boa] acção. As únicas diferenças fundamentais entre uma empresa e uma associação sem fins lucrativos, é que para a primeira bastam 2 sócios (ou até 1) e para a segunda são precisos uns 9, e que quando há lucro*, se for uma empresa este pode sair da mesma e ir enriquecer os sócios, e se for uma associação sem fins-lucrativos isto não pode acontecer, o lucro fica na associação e é reinvestido (mas isto é, de resto, o mais normal numa pequena empresa também).

* lucro é o que sobra depois de pagos: o IVA, o PEC, os ordenados, os subsídios de alimentação, os fornecedores, a Segurança Social, os seguros, a renda, a água, a luz, a internet, o telefone, os empréstimos bancários, os consumíveis (papel, toners, detergentes, etc), as amortizações (coisas que se avariam ou degradam e precisam de substituição ou reparação, etc), as licenças (ex.: de publicidade, de ocupação de espaço público, de música, etc), os gastos com publicidade, os serviços (contabilista, informático, designer, limpeza, etc), o pagamento dos domínios e do alojamento de sites, etc, etc… Depois vem o Estado e sobre estas sobras leva-nos entre 12.5 % a 25 % em IRC. Se isto não der um resultado negativo, estamos bem!

Quando criámos a Cenas a Pedal, em 2006, a ideia era constituí-la na forma de uma Community Interest Company, algo que existia no Reino Unido desde 2005, mas não em Portugal (pelo que investigámos e pelo que nos foi dado a escolher), pelo que a única opção para um projecto criado e controlado a dois foi uma sociedade comercial convencional. Na prática, contudo, somos efectivamente uma empresa social.

A social enterprise is a business with primarily social objectives whose surpluses are principally reinvested for that purpose in the business or in the community, rather than being driven by the need to maximise profit for shareholders and owners. Social enterprises tackle a wide range of social and environmental issues and operate in all parts of the economy. By using business solutions to achieve public good, it is believed that social enterprises have a distinct and valuable role to play in helping create a strong, sustainable and socially inclusive economy.

……..

Social Entrepreneurship is the work of social entrepreneurs. A social entrepreneur recognizes a social problem and uses entrepreneurial principles to organize, create and manage a venture to achieve social change (a social venture). While a business entrepreneur typically measures performance in profit and return, a social entrepreneur focuses on creating social capital. Thus, the main aim of social entrepreneurship is to further social and environmental goals. Social entrepreneurs are most commonly associated with the voluntary and not-for-profit sectors, but this need not preclude making a profit.

Menu do dia

A mudança social para a qual trabalhamos tem a ver com a forma como as pessoas se deslocam e tudo o que está a isso associado, a jusante e a montante. Actualmente a mobilidade individual está fortemente dependente e até adicta do automóvel particular, criando problemas relacionados com:

  • a saúde: doenças derivadas da poluição atmosférica e sonora, e do sedentarismo, mortes e sequelas derivadas da reduzida competência, responsabilização e fiscalização dos condutores de automóveis,
  • as relações sociais entre as pessoas: a insegurança e a ocupação do espaço público pelos automóveis conduz ao isolamento, e à perda de relações de proximidade na comunidade, essenciais para haver redes de solidariedade e cooperação, e uma democracia funcional,
  • a equidade e prosperidade económicas: os congestionamentos encarecem as actividades económicas, e roubam tempo às pessoas que poderia ser usufruído em actividades com a família ou amigos, gasto em si próprias, ou doado à comunidade na forma de voluntariado ou participação cívica; e as perdas de vidas humanas e os encargos de saúde derivados da poluição, do sedentarismo e dos acidentes constituem perdas económicas e gastos financeiros pelo Estado e pelos cidadãos; o gasto com o posse e uso dos automóveis constitui um encargo excessivo no orçamento das famílias, promovendo o seu sobreendividamento e/ou o não investimento noutros bens e serviços como formação, lazer, saúde, etc, e concentrando o benefício económico numas poucas grandes empresas relacionadas com a indústria automóvel,
  • a preservação do ambiente: a poluição e os gastos de energia e água causados pelo fabrico, uso e abate dos automóveis constitui uma externalidade do uso do automóvel, que é suportada por todos, mas desproporcionalmente pelos mais pobres, justamente aqueles com menor acesso ao automóvel; o acesso e uso facilitado do automóvel privado permite e incentiva usos do solo ineficientes do ponto de vista energético, de mobilidade, social e ambiental, ao encorajar a dispersão, a baixa densidade, e o monofuncionalismo – levando à destruição de território natural e arável para construir estradas e parques de estacionamento, e edifícios, à maior dependência de fontes energéticas não renováveis e sujas, perigosas e/ou destruidoras de habitat (petróleo, carvão, gás natural, nuclear, hídrica), e à competição entre espaço para circulação e estacionamento de automóveis e espaço para arborização e ajardinamento de ruas, parques infantis, parques e jardins urbanos, parques desportivos, passeios e vias para bicicletas, estacionamento de bicicletas, largos, praças, bancos, etc, etc, etc.

Saúde, economia, ambiente, cidadania, solidariedade social, está tudo inter-relacionado e em tudo isto a bicicleta pode desempenhar um papel importante. Mas não tenhamos ilusões, a nível de uso para transporte, a bicicleta só é uma solução, uma coisa positiva, se vier substituir o carro.

A bicicleta, mais ciclistas, mais bicicletas na rua não é um fim em si mesmo, é uma forma de conseguirmos a cidade que queremos: saudável, acessível, competitiva e próspera, segura, diversa, democrática, participada, viva, agradável. E essa cidade sofre actualmente com o excesso de automóveis privados. Conseguir mais viagens de bicicleta à custa de viagens a pé e de transportes públicos é fácil e inútil, contraproducente até (vai criar problemas antes inexistentes, a nível de estacionamento, por exemplo). Não se pretende “acabar com os carros”, nem diabolizá-los ou a quem os usa, pretende-se, sim, criar soluções para as pessoas se deslocarem de forma mais sustentável, e mais eficiente, deixando o recurso ao automóvel (quer a posse e depois o uso) como solução de excepção depois do andar a pé, de bicicleta, de TP, em carsharing e em carpooling.

A missão da Cenas a Pedal é, assim, promover e servir um estilo de vida baseado na bicicleta como veículo utilitário, e do dia-a-dia, mas não só, pois passear, viajar e brincar de bicicleta é bom para o corpo e para a mente (além de ser bom para estimular as economias locais sem causar impactos ambientais e sociais negativos). 🙂 (Não se trata de defender a bicicleta pela bicicleta, nem a bicicleta em exclusividade – há que tirar partido da polimodalidade!)

Um dia esperamos poder estar e ser na Cenas a Pedal só pelo gozo de andar de bicicleta, triciclo & Cia e partilhar esse gozo com os outros, sem a luta de afirmar e instituir a bicicleta como opção de transporte digna, válida e competitiva (além de cool e sexy, yeah!). O amanhã por que trabalhamos hoje, virá um dia, é preciso é que continuemos todos a trabalhar para isso, pois não vale a pena esperar que as coisas aconteçam, alguém tem que as fazer acontecer, e isso somos todos nós com as pequenas e grandes acções de todos os dias, à nossa escala.

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Festival Itinerante CicloRia

Festival CicloRia . 1, 2 e 3 de Julho . Ovar, Murtosa e Estarreja

O Festival Itinerante CicloRia convida-o a pedalar pelas paisagens da Ria num encontro com a cultura, a gastronomia, a natureza e as gentes da terra. Um itinerário suave, agitado pelas actividades em bicicleta,  embarcações típicas, jogos, artes e concertos musicais.

Um Festival para toda a família, com vários ritmos e intensidades.

O programa do Festival está aqui.

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Clipping: «Cenas com duas rodas»

A revista Visão da semana passada publicou um artigo sobre nós! 😀 A propósito do nosso novo ateliê, fomos contactados pela Sandra Pinto, que nos enviou uma série de perguntas por e-mail. A resposta foi algo extensa e detalhada, provavelmente mais do que ela estaria à espera, mas ficámos muito contentes com o trabalho dela. Conseguiu extrair o fundamental e resumir tudo muito bem. 🙂 Obrigada Sandra!

"Cenas com duas rodas" - clipping Cenas a Pedal na revista Visão
(cliquem na imagem para ver melhor)

A única pequena nódoa é mesmo aparecermos na secção “desporto”, mas isto com jeitinho vai lá, eventualmente. 😉

(Mais algum clipping aqui.)