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Uns são filhos, outros enteados

Programa MOBI.E: Iniciativa portuguesa de mobilidade eléctrica que tem como objectivo posicionar Portugal como país pioneiro no desenvolvimento e adopção de novos modelos energéticos para a mobilidade sustentável.

GAMEP: Gabinete criado no âmbito do Ministério da Economia e da Inovação, que tem por missão coordenar toda a dinâmica da mobilidade eléctrica em Portugal, nomeadamente, o Programa MOBI.E.

Pelo que eu percebi numa breve incursão por este tema, e por este site, o governo do meu país criou um programa que usa os recursos públicos (onde se incluem os meus impostos – pessoais e da minha empresa que vende mobilidade em bicicleta) para oferecer aos cidadãos e empresas nacionais descontos na compra de automóveis state-of-the-art, ou seja, do mais moderno possível, a cerca de 11 marcas/empresas privadas estrangeiras, bem como descontos nos impostos e nos consumos energéticos associados ao seu uso. E dão um desconto extra-grande aos pioneiros, e a quem dê um carro antigo (a.k.a. obsoleto) para abate. Tudo isto, dizem, em resposta à «crescente dependência energética do petróleo e pelo enorme impacto ambiental resultado da utilização de combustíveis fósseis», apostando assim Portugal «em novos modelos energéticos para a mobilidade, que visam melhorar a qualidade de vida das cidades e de todos nós», e contribuindo «para uma mobilidade mais sustentável». Dizem ainda que encaram «este momento como uma oportunidade para mudar a forma como nos movemos».

Na verdade, isto é uma treta. Não pretendem mudar a forma como nos movemos, pretendem apenas mudar a fonte de energia que usamos para nos mover nessa mesma forma de sempre – o automóvel particular (normalmente de uns 4 ou 5 lugares). Não visam promover uma mobilidade mais sustentável, visam promover uma mobilidade automóvel mais sustentável. É diferente.

Incentivos à substituição de automóveis por motas ou bicicletas, eléctricas ou não) ou passes sociais nas empresas? Nada.
Incentivos à substituição de automóveis por motas ou bicicletas, eléctricas ou não) ou passes sociais nas famílias? Nicles.

Compro um carro eléctrico e dão-me 5.000 € de desconto no seu preço (6.500 € se entregar o meu carro velho mas funcional para ser destruído), e ainda me isentam do Imposto sobre Veículos (alguns milhares de €uros) e do Imposto Único de Circulação (algo como 80 a 600 € / ano). E depois ainda posso deduzir 30 % do custo do carro novo (até 803 €) no meu IRS; se for uma empresa posso abater as despesas associadas no IRC. And, last but not least, pago menos impostos sobre a energia para mover este meu novo carro, em vez de 21 % de IVA, pago só 6 % (e que se lixem as consequências do Paradoxo de Jevons). Se comprar uma bicicleta com assistência eléctrica não tenho direito a nada, nem descontos, nem isenções, nem taxas reduzidas (à parte a electricidade doméstica a 6 % de IVA). Infelizmente, esta política de 2 pesos, 2 medidas, não é exclusiva de Portugal.

De notar que o IUC (pago anualmente) é um imposto associado não à circulação do veículo (motorizado), mas à sua propriedade, e tem uma componente associada à cilindrada (33 % a 55 %) e outra às emissões de CO2 (77 % a 45 %). O ISV é pago na aquisição do veículo (motorizado) novo, e tem igualmente uma componente associada à cilindrada e outra às emissões de CO2. As emissões de CO2 são o factor “ambiental” usado pelo Estado, contudo, o CO2 é só um dos muitos poluentes atmosféricos emitidos pelos automóveis, pelo que este critério de discriminação da carga fiscal pode não ser muito eficaz a promover os veículos globalmente menos poluentes. O único imposto associado à utilização dos veículos motorizados é o ISP, o imposto sobre produtos petrolíferos e energéticos, agravado depois de IVA à taxa máxima. Num litro de gasóleo, do preço final ao consumidor, 17 % é IVA, 31 % (0.60 €) é ISP, e 52 % é o custo do combustível no fornecedor. Na gasolina 95 é 17 %, 43 % (0.55 €) e 40 %, respectivamente.

Quem arrecada esta receita (ou, neste caso, quem perde receita com estas borlas do Estado)?

Município de residência do proprietário: 100 % do IUC de motos c/ mais de 50 cm3 cilindrada; 70 % da componente respeitante à cilindrada dos automóveis ligeiros.

Estado: 100 % da componente do IUC respeitante à emissão de CO2 + 30 % da componente do IUC respeitante à cilindrada dos automóveis ligeiros; 100 % do IUC dos automóveis pesados de mercadorias e dos automóveis pesados de passageiros.

Parece que é um mau negócio para as autarquias, que continuarão a ter que suportar os custos da reparação e manutenção das estradas municipais degradadas pela circulação automóvel, perdendo, no entanto, as receitas associadas a esses automóveis (bom, a parte deles, Lisboa, por exemplo, recebe um fluxo brutal e anormal de carros vindos de outros concelhos, face aos carros locais, o que levanta este problema mesmo previamente a este programa do Governo).

Um pormenor interessante também é que, quanto mais cara à partida for a energia usada por um veículo, maior a receita do Estado em IVA, ou seja, quanto mais caro e ineficiente for o veículo em termos de consumo energético, mais proveitoso no imediato para o Estado. Isto significa que o Estado prefere ter-nos a todos a mover-nos sozinhos em carros com capacidade para 5 pessoas + carga do que em bicicletas [com assistência eléctrica]… E o ISP é a 4ª maior fonte de receitas fiscais para o Governo português. Ocorre-me perguntar qual é a contrapartida à perda desta enorme fonte de receita (e também desta), dado que a maior parte dos gastos e perdas públicas com os automóveis continuarão a existir (manutenção de vias, sinistralidade rodoviária, congestionamentos, etc) quando forem todos eléctricos. Sim, porque não me parece que o Governo abdique dela por suspeitar que vai valer a pena com o que vai poupar só na Saúde (menos doenças graças aos carros mais silenciosos e com menos emissões poluentes). Talvez isso não seja o suficiente. Terá a ver com algo mais macroeconómico, a nível da balança das importações / exportações de energia?…

Seja como for, está a parecer-me cada vez mais que quem não anda de carro está a subsidiar cada vez mais o uso de carro pelos outros. Toda aquela história, mais popular nos países com poucos ciclistas mas em crescimento (tipo EUA e Reino Unido) de “são os automobilistas que pagam as estradas“, implicando que são os donos destas e querendo afastar delas aqueles que eles vêm como parasitas – os ciclistas, que não pagam Imposto sobre Veículos, Imposto Único de Circulação, Imposto sobre Produtos Petrolíferos, e IVA sobre o combustível, nunca fez sentido (são impostos que visam pagar os prejuízos provocados pelo uso do carro, não visam pagar a construção da infra-estrutura, isso vem da receita fiscal geral), mas o oposto começa a fazer. Apetece dizer a quem está nos carros, quando saímos de bicicleta, “saiam daqui e deixem-me passar, respirar e ouvir os pássaros, o vento e as pessoas, porque vocês não pagam o suficiente para compensar o que fazem à cidade…”

Quanto ao Mobi.e, se incluísse as bicicletas com assistência eléctrica, promoveria a adopção da bicicleta como meio de transporte tal como o faz com o carro eléctrico. Teria ainda a vantagem de permitir às pessoas investir em modelos mais baratos, com menor autonomia, e mais leves, porque haveria vários pontos ao longo do caminho onde poderiam recarregar a bateria.

Seria simpático, para não dizer simplesmente de elementar justiça e coerência com a alegada preocupação em «promover modos de transporte mais sustentáveis», anunciada com a aprovação do “Plano Nacional de Promoção da Bicicleta e outros Modos de Transporte Suave”, para o qual até criaram um Grupo de Trabalho inter-ministerial e tudo

Vejo com agrado a introdução de carros eléctricos nas nossas cidades, visto que os principais inconvenientes que encontro ao deslocar-me de bicicleta por elas, logo a seguir ao mau estado das infra-estruturas viárias, são a exposição à poluição atmosférica e sonora causada pelos automóveis (nomeadamente pelo puro excesso deles), que tornam a viagem desconfortável e, no limite, afectam a minha saúde. Contudo, sinto-me muito lesada enquanto cidadã pela forma como o programa de incentivos foi implementado, porque me parece claro que não integra uma estratégia simultânea de redução da competitividade do automóvel particular (eléctrico ou não) em meio urbano, não resolvendo assim muitos dos problemas graves, causados ou agravados pelo excesso de automóveis, que diminuem a minha qualidade de vida enquanto residente e trabalhadora na cidade. E sinto-me lesada enquanto utilizadora de bicicleta como principal opção de mobilidade (a par do andar a pé e do recurso ocasional aos transportes públicos), porque pago 21% de IVA sobre todo o equipamento que comprar para me deslocar de bicicleta, e não tenho acesso a estações de carregamento públicas onde pudesse recarregar a bateria de uma bicicleta eléctrica, e se quiser ter formação em condução e segurança rodoviária ou simplesmente aprender a andar de bicicleta para a usar depois como exercício físico, pago tudo a 21 %. Não beneficio de incentivo, desconto ou isenção nenhuma. E sinto-me lesada enquanto empresária porque o Estado não apoia esta nova tecnologia para uma mobilidade mais sustentável e uma maior eficiência energética que é,… tchanan… a bicicleta, e a bicicleta com assistência eléctrica, subsidiando a compra destes produtos (e serviços) e oferecendo incentivos fiscais, e ainda vai fazer isso mesmo (usando também o meu dinheiro) a quem pode ser considerado meu concorrente directo…

E António Costa, da autarquia de Lisboa, que, pelo Vereador José Sá Fernandes, recentemente tem investido em pavimentar faixas em passeios e permitindo e obrigando os ciclistas a circular pelos passeios dos peões em vez de na estrada dos veículos, com o pretexto de servir para promover o uso da bicicleta (tal como o serviço de bikesharing que têm estado a tentar implementar), tido como um objectivo do actual executivo, acha que «o carro eléctrico vai ser uma revolução para as cidades do séc. XXI». Não faz por menos, uma “revolução”. Vai concerteza revolucionar os inaceitáveis níveis de sinistralidade rodoviária, a epidemia da obesidade (e doenças associadas), os congestionamentos que nos dão doenças mentais e nos tiram produtividade, o estacionamento selvagem, a falta de espaço público de estadia, recreio, etc, and so on. É um milagre, o carro eléctrico.

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Bicycle Politics: symposium and workshop

Vai ter lugar nos dias 16 e 17 de Setembro deste ano, no Centre for Mobilities Research, na Lancaster University, em Lancaster, no Reino Unido, o simpósio e workshop “Bicycle Politics”.

Parece muito interessante! 🙂

The major role and relevance of bicycles and cycling to future life seems increasingly unquestionable. On the ground, projects across the world are committed to promoting cycling and/or cycling-oriented subcultures. In both theory and practice, there’s a real energy and vitality to think about cycling differently, to carve out alternative possibilities around the bicycle.

But if cycling is enjoying a renaissance, it is also under fire. Whilst almost everywhere people are pushing for cycling, it also seems that almost everywhere cycling is deeply problematic – contentious, oppressed, discriminated against.

Bicycles, cycling and cyclists seem to invoke love and hate in equal measure …

Bicycle Politics, a two day event hosted by the Centre for Mobilities Research (CeMoRe) at Lancaster University, UK, aims to explore bicycles and cycling politically. By thinking creatively and critically, its political project is to help push bicycles and cycling further into the hearts of our cities and societies, to improve the possibilities for cycling to re-make our world, to assist cycling’s obvious potential to contribute to alternative, sustainable mobility futures.

To this end, we are calling for critical explorations of the political, social, cultural and economic barriers to current and future cycling, as well as for critical investigations of the ways in which bicycles, cycling and cyclists are currently framed.

We welcome all proposals for papers which fit under the broad heading of Bicycle Politics. Such contributions might examine:

• Cycling and political economies and ideologies

• The politics of cycling ‘promotion’

• Critiques of cycling

• Cycling and discriminations

• Cycling and inequalities

• Cycling, social control, freedom and deviance

• Cycling, space and the politics of space

• Cycling, social movements and social change

• Cycling and identity

• Cycling and the politics of representation

• Feminist perspectives on cycling

• Cycling and the law

The precise structure of the event will be decided later. But we anticipate the first day comprising paper presentations, with the second day given over to deeper explorations of the papers and ideas presented the previous day. Our intention is to produce an edited collection, Bicycle Politics, from the event.

If you wish to present a paper, please send title and abstract, by Wednesday 5th May 2010, to both:

Dave Horton – and Aurora Trujillo –

We aim for the symposium and workshop to be free and open to all. However, spaces could be limited. So if you would like to participate, but do not plan to present a paper, please email us to reserve a place.

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Formação de ciclistas, nas escolas, nos Países Baixos

Há pessoas que justificam a necessidade ou a “bondade” das ciclovias por pensarem que estas permitem que pessoas sem formação em condução e segurança rodoviária (tanto adultos como crianças e jovens) possam assim deslocar-se de bicicleta em segurança. Contudo, este raciocínio é errado. John Forester simplificou e unificou o ciclismo veicular em 5 princípios básicos de como o trânsito funciona e de como o ciclista age em cada situação. Os 5 princípios são:

  1. Conduz do lado direito da faixa de rodagem, não do lado esquerdo e nunca no passeio.
  2. Cede passagem ao tráfego de atravessamento em ruas superiores.
  3. Cede passagem ao tráfego que te ultrapassa antes de mudar de via de trânsito.
  4. Posiciona-te de acordo com o teu destino ao aproximares-te de uma intersecção.
  5. Posiciona-te de acordo com a tua velocidade relativamente ao restante tráfego entre intersecções.

Como ele diz, se um ciclista obedecer a estes 5 princípios, poderá circular de bicicleta em muitos sítios com uma reduzida probabilidade de causar conflitos de trânsito. Não fará tudo da melhor forma possível, e ainda não saberá como se safar de sarilhos que outros condutores possam causar, mas sair-se-á melhor que a média dos ciclistas.

Ora, que princípio destes 5 é possível não conhecer e respeitar e ainda assim conduzir em segurança, se circularmos por ciclovias?…

As ciclovias exigem MAIS conhecimento e competência para serem seguras, tanto de ciclistas como de quem se cruza com eles, especialmente num país com o nosso quadro legal.

O facto de nos Países Baixos (nomeadamente na Holanda), cujo nível de qualidade das ciclovias é infinitamente superior ao nosso, que tem regras de trânsito mais vantajosas para os ciclistas, e que tem uma imensamente maior cultura de utilização da bicicleta, ter programas de formação de condução e segurança rodoviária em bicicleta implementados nas escolas (de modo a chegar a toda a população), quer dizer alguma coisa.

Se lá isto é importante, que dizer de cá?

Não vou comentar, pelo menos desta vez, a metodologia de formação aplicada, que transparece neste vídeo. Pretendo apenas chamar a atenção para o facto de haver formação universal gratuita e garantida pelo Estado.

Cá pretende-se começar pelo telhado (ciclovias, ainda por cima más, muitas vezes), deixando as paredes (legislação e formação) para “um dia”.

Precisamos de mais pessoas formadas nestas questões e de mais indivíduos e empresas a trabalhar nesta área (a Cenas a Pedal não daria vazão a todo o país :-P), precisamos de discutir longamente e desenvolver abertamente com os vários stakeholders um Padrão Nacional de Formação para procurar garantir o máximo de qualidade, e precisamos que o Estado apoie este tipo de programas para adultos e, principalmente, que os implemente nas escolas, porque “de pequenino é que se torce o pepino” (e porque fazer isto nas escolas é mais eficiente do ponto de vista dos custos e porque garante que toda a população tem acesso a isto e não simplesmente só os que podem pagar e/ou os que estão interessados à partida – tal como a Matemática, a Ed. Física, etc).

O Estado português precisa de “put its money where its mouth is“, como dizem os americanos, e passar da conversa mole sobre sustentabilidade e bicicletas e peões e transportes públicos e green e nova mobilidade e obesidade infantil e blá blá blá,… à acção (com resultados!).

Tenho dito.

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3er Congrés de la Bicicleta

É já daqui a um mês, de 14 a 17 de Abril, em Lleida, Espanha, o 3º Congresso da Bicicleta.

Os temas deste ano são infraestrutura & legislação. A última edição foi em 2008.

Checkem a agenda. 🙂

Estou a ponderar ir! Mas ainda é uma brincadeira para ficar nuns 300 € mesmo na versão mais low-cost, e 3 dias de trabalho… Logo se vê como correm as próximas 2-3 semanas para a Cenas a Pedal. ;-P Alguém por aí está também com ideias de ir?

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10 conselhos para circular de bicicleta na cidade

Vídeo de conselhos para os utilizadores do sistema de bikesharing da Cidade do México, o Ecobici:

[via]

Citando:

  1. Sê visível
  2. Lembra-te que operas um veículo com todos os direitos e deveres inerentes
  3. Lembra-te que tens direito a usar toda a largura da via
  4. Procura sempre colocar-te diante dos automóveis ao aguardar pelo verde num semáforo
  5. Não andes aos zigue-zagues
  6. Tem cuidado ao ultrapassar
  7. Nas rotundas segue em linha com os automóveis
  8. Lembra-te que os passeios são para os peões
  9. Nunca vás em contramão
  10. De noite usa reflectores e equipa a tua bicicleta com luzes

Resumindo:

Sê visível (pontos 1, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10).
Respeita as normas do trânsito (pontos 2, 8, 9).

Correm notícias de que o sistema de bikesharing de Lisboa estará em funcionamento até ao final deste ano. Parece que as bicicletas terão assistência eléctrica. E ontem ouvi que a adjudicação implicou uma contrapartida de dinheiro para investigação – não sei é do quê, por quem, etc. Vamos torcer para que não se tenham esquecido de contemplar orçamento e meios adequados para campanhas de comunicação e educação como esta do Ecobici.