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Era inaceitável mesmo que ela tivesse passado com o vermelho

A Ana tinha 16 anos e morreu na semana passada.

Morreu atropelada numa passadeira de peões. Caminhava com uma bicicleta pela mão (a bicicleta, aqui, é pouco relevante), viu o sinal verde e avançou, confiando na infraestrutura e nas regras de trânsito e na responsabilidade dos condutores de automóvel.

O “Manuel” (vamos chamar-lhe assim, visto ninguém ter divulgado o seu nome) tem 19 anos e matou a Ana na semana passada. Conduzia um automóvel, não terá visto ou viu mas não respeitou o sinal vermelho, e atropelou a Ana, apesar da visibilidade para o passeio e para a passadeira ser perfeita. Atropelou-a a uma velocidade tal que lhe causou a morte uns dias depois. 

A Ana morreu, não está cá para lamentar ter perdido a vida, ter perdido a oportunidade de viver a sua vida, de fazer as coisas que sonhava fazer. Mas estão cá os seus pais, os seus familiares, os seus amigos, que terão que continuar a viver com o choque, a dor da perda e a revolta por uma morte violenta e principalmente, perfeitamente evitável. 

Por que achamos aceitável matar um filho ou uma filha a alguém?

Por que achamos aceitável matar um pai ou uma mãe a alguém?

É que fazemo-lo anualmente, matamos cerca de 600 filhos e/ou pais de outras pessoas. E ferimos gravemente milhares de outros. E nada fazemos para impedir eficazmente isto, ano após ano.

O “Manuel” vai ter que viver sabendo que matou uma pessoa. O que vai isso fazer à sua vida? À sua saúde mental, à sua relação consigo próprio e com os outros? 

Claro que o normal é querermos linchar o “Manuel”. Ele infringiu duas regras, aparentemente. Cometeu um erro e em consequência alguém morreu.

Sim, o “Manuel” deveria ser punido exemplarmente. Mas não basta ser só ele. Têm que ser todos os “Manuéis”, e principalmente, todos os “Manuéis” que vão cometendo estas infrações sem matar nem atropelar ninguém. Antes que atropelem e matem alguém…

Mas o “Manuel” é também uma vítima deste ambiente tóxico que estimula e permite comportamentos perigosos na condução de veículos automóveis. Todos nós, quando conduzimos automóveis, caímos, uns mais, outros menos, nos mesmos erros – excesso de velocidade, manobras perigosas, distrações – simplesmente a maior parte de nós tem a sorte de não acabar matando alguém. O “Manuel” somos nós todos, só que num dia “de azar”.

Sim, temos que ter melhores leis, mas temos depois que ter melhor fiscalização (muito melhor, que somos uma anedota a este nível), e também temos que ter um melhor sistema judicial, um que não deixe prescrever as coimas, um que em julgamento não desculpabilize quem cometa infrações graves, perigosas, e crimes rodoviários.

E sim, precisamos de melhor formação ao tirar a Carta de Condução, e de ações de reciclagem e revalidação regulares ao longo da vida.

E sim, precisamos que os media e toda a gente pare de noticiar estas colisões e estes atropelamentos desta forma:

  • usando a palavra acidente, em vez de colisão ou sinistro – não são acidentes, e isto perpetua  ideia de que não temos poder para os evitar, e temos!
  • fraseando as coisas para fazer parecer que são os carros que matam, que estes já são autónomos (ex.: «Carro ‘voou’ para dentro da BP em aparatoso acidente.», «O carro despistou-se numa curva», «o carro não viu», «o carro não parou», etc, etc. Os carros ainda não têm vontade própria, são conduzidos por pessoas e são as ações destas que, tipicamente, geram colisões. Temos que parar de as desculpabilizar com as palavras.
  • focando-se exclusivamente na vítima, as imagens são do local, ou do veículo, ou do corpo da vítima (principal), reforçando novamente a sensação de impotência e de vulnerabilidade, e o medo de morrer de quem já mais morre – o foco deve ir primeiro para quem mata e quem fere, queremos disseminar o perfil do agressor, só assim podemos, a nível de políticas públicas, perceber onde e como intervir. As notícias não devem servir para disseminar junto das potenciais vítimas o medo de morrer, devem servir principalmente para disseminar junto dos potenciais agressores o medo de matar (e depois também o medo de ser efetivamente punido por fazê-lo!).
  • apontando apenas alegadas falhas de vítimas e de agressores, deixando de lado as falhas das entidades públicas no desenho do ambiente envolvente.

E sim, precisamos de deixar de permitir a publicidade a automóveis associada a comportamentos perigosos, como a velocidade ou a agressividade.

Mas o principal, aquilo que salva vidas, aquilo que previne eficazmente histórias trágicas como a da Ana e a do “Manuel”, é organizar o ambiente urbano e o ambiente rodoviário, e os próprios veículos, de forma a que erros normais, erros naturais, erros observáveis sistematicamente, não acabem com alguém morto ou gravemente ferido.

O “Manuel” cometeu vários erros de condução, e infringiu várias leis, aparentemente, e por isso a culpa da morte da Ana é dele. E podemos, naturalmente, porque somos apenas humanos, dirigir para ele todo o nosso ódio, a nossa revolta, a nossa angústia, por ter roubado a Ana aos seus, e a si própria. E nós sabemos que a Ana poderia ser qualquer um de nós, e qualquer um dos nossos. Mas fazê-lo é injusto, e inútil. Devemos dirigir a nossa raiva para ações que efetivamente levem a mudanças estruturais que previnam coisas destas de acontecer.

É que a culpa é dele também, mas não é só dele. É dos arquitectos das nossas cidades, é dos arquitectos destes ambientes em que para agir de forma prudente temos que ser mais informados que o normal, termos mais empatia do que o normal, termos maior sentido de responsabilidade do que o normal, estarmos mais despertos do que o normal, estarmos menos cansados do que o normal, estarmos mais atentos e concentrados do que o normal. Quando devia ser o contrário, devíamos circular em ambientes em que o piloto automático é prudente, e em que para fazermos asneiras temos que as fazer consciente e deliberadamente.

E se tivesse sido a Ana a passar o sinal vermelho? O “Manuel” passaria a ser visto como uma pobre vítima, para sempre traumatizada, e a Ana passaria a ser vista como infeliz merecedora da sua má sorte. Uma morte trágica, mas causada pelo seu próprio comportamento.

Esta dicotomia do culpado / não culpado é infeliz. Esta dicotomia é o que nos leva precocemente 600 pessoas todos os anos, e o que nos deixa uns milhares estropiados. Preocupamo-nos em definir quem tem a culpa em caso de colisão, em vez de garantir que essa colisão nunca chega a ocorrer, com culpa ou sem culpa seja de quem for.

Sabemos que 90 % das colisões envolvem erro humano. E sabemos que destas, 90 % envolvem velocidades altas, desadequadas. Não é óbvio que temos que desenhar o nosso ambiente urbano e o nosso ambiente rodoviário, para que, quando os erros acontecem, que acontecerão, invariavelmente, seja de quem for, tal não resulte na morte ou grave ferimento de ninguém? E que isso passa, principalmente, por condicionar física e psicologicamente a velocidade de circulação dos veículos automóveis conduzidos por esses mesmos humanos?

Se baixarmos – por desenho – a velocidade máxima de circulação dos automóveis em meio urbano (e em povoações), de 50 Km/h (teóricos, porque a maior parte dos condutores circula a mais que isso) para 30 Km/h efetivos, garantimos que haverão muito menos colisões, e que as que houver terão 9 em cada 10 pessoas a sobreviver, em vez de apenas 1 em cada 10.

Até quando vamos aceitar manter as nossas crianças e os nossos velhos tristemente reféns em espaços fechados, impedidos de estar e de circular na cidade de forma autónoma, para que nós possamos circular pela cidade a velocidades incompatíveis com a vida, só porque sim?

Quantas pessoas achamos aceitável que morram ou que fiquem estropiadas para que nós possamos exceder os 30 Km/h no meio das cidades ao volante de um objeto de 1 ou 2 toneladas? E quantas destas pessoas podem ser das “nossas”? Aceitamos que nos possam, a qualquer momento, matar um filho, para que possamos todos, coletivamente, conduzir de forma perigosa, e por motivos fúteis?

Por que é que matámos uma filha aos pais da Ana? O que é que vamos fazer para que mais nenhum pai nem nenhuma mãe perca um filho desta forma estúpida? Para que mais ninguém fique sem um irmão, ou sem um pai ou uma mãe desta forma violenta e evitável?…

Hoje, às 19h, estaremos na vigília.

Mas não confundir uma vigília destas com ação. Se queremos mudança temos que fazer lobby junto do governo, junto do parlamento, junto dos partidos, junto da ANSR, junto de n outras entidades públicas. E temos que fazer pressão também junto de entidades privadas, como as escolas de condução, os media, as empresas de transportes coletivos, as empresas de logística, etc, etc. Tornarmo-nos sócios e apoiar o trabalho de associações como a MUBi, e um pouco de #ativismodesofá, mandar mails, mandar cartas, escrever “cartas do leitor” para jornais, intervir em programas de rádio e de TV, etc. 

Temos que mudar o paradigma para ele depois nos mudar a nós.

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App Biklio: ir de bicicleta dá prémios

App Biklio, o que é e para que serve

Quem se desloca de bicicleta pela cidade tem que lidar com alguns desafios, como encontrar estacionamento adequado e prático junto dos seus destinos. 

Um dos maiores desafios de qualquer negócio, principalmente dos pequenos, é primeiro fazer-se conhecer pelo seu público alvo, e depois atraí-lo ao seu espaço/serviço, e finalmente fidelizá-lo. 

A app portuguesa Biklio, cuja tagline é bike with benefitsyou benefit the community, the community benefits you (“bicicleta com benefícios – tu beneficias a comunidade, a comunidade beneficia-te a ti”), visa abordar estes dois problemas e aproximar a realidade portuguesa do comércio de rua com a realidade dinamarquesa, por exemplo.

ciclistas responsáveis por 36 % das vendas nas lojas de rua em Copenhaga
Klaus Bondam @ Conferência “A bicicleta nas cidades – Lisboa e Copenhaga”, Lisboa, 18 de Setembro de 2017

Como funciona a app Biklio

Está a ser criada uma comunidade Biklio de espaços comerciais bike-friendly em que, a troco de visibilidade e fidelização de clientes, quem se desloca de bicicleta até eles é recompensado com descontos e outras ofertas, além de facilidade de estacionamento público ou privado em muitos casos. Este vídeo ilustra a ideia da Biklio:

A app instalada no smartphone detecta se fomos de bicicleta e no final de cada viagem (de pelo menos 500 metros!) ficamos elegíveis para reclamar os nossos benefícios juntos dos parceiros aderentes. Assim, somos incentivados a optar por um espaço comercial da rede face a um equivalente não pertencente à rede. Por outro lado, os espaços comerciais ganham visibilidade juntos dos utilizadores de bicicleta aderentes à app Biklio e incentivam-nos ao oferecer-lhes vantagens exclusivas.

Benefícios comuns:

  • estacionamento privado
  • bomba de ar
  • ferramentas de emergência
  • poder encher a garrafa de água
  • descontos
  • ofertas

benefícios biklio nas lojas

benefícios biklio no velocité café benefícios biklio na organik

A minha preferida é a oferta da 2ª bola de gelado no atelier Gelati, perigosamente perto dos nossos estaminés de bicicleta – armazém e oficina, e escola) 😛 e numa zona agradável junto ao rio e livre de automóveis, no Parque das Nações.

benefícios biklio no atelier gelati

Além disso, os dados (anonimizados) gerados relativamente aos padrões de uso da bicicleta por parte dos aderentes (tal como no caso das bicicletas Gira do bikesharing em Lisboa), poderão melhor informar decisões de políticas públicas de mobilidade em bicicleta (quais as rotas mais usadas por quem anda de bicicleta, por exemplo, etc, muito mais úteis do que os dados de contadores fixos).

O meu heat map no Mooves aqui há tempos

No meu dia-a-dia eu dou preferência a um sítio onde tenha estacionamento seguro e prático à porta, ou onde possa mesmo entrar com a bicicleta no estabelecimento, principalmente para coisas rápidas como ir ao banco, à Wink, ao supermercado, à farmácia, aos CTT, etc. E entre duas ofertas equivalentes, preferiria votar com a carteira em negócios que discriminassem positivamente quem vai de bicicleta [nomeadamente face a quem vai de carro, pois é isso que interessa], claro, não só por mim, mas pela minha cidade e por todas as outras pessoas que nela vivem.

As pessoas e o futuro da Biklio

A propósito de pessoas, pelo menos duas (as que nós conhecemos) das que estão por trás da app Biklio, o João Bernardino e o João Barreto, são utilizadores de bicicleta como meio de transporte quotidiano já de longa data, e cicloactivistas muito dedicados.

as pessoas da app Biklio as pessoas da app Biklio

Se eles conseguirem desenvolver a aplicação além do seu tempo de vida no âmbito do projecto europeu TRACE em que foi criada, poderão entrar no campo do empreendedorismo social, usando uma actividade comercial para atingir um fim social. Tal como nós na Cenas a Pedal! 🙂 Desejamos-lhes toda a sorte do mundo para levarem a Biklio tão longe quanto possível!

A propósito, a app Biklio foi considerada uma das 150 startups mais promissoras de Portugal pela StartUp Portugal, e irá estar a ser divulgada na Web Summit, com o objectivo de validar o modelo de negócio e angariar parceiros e investidores.

E agora, o que vais fazer com esta informação?

E não deixes de participar no Web Summit Side Event da Biklio, é na 5ª-feira dia 9 de Novembro, às 19h na cervejeira Dois Corvosusa a app e pedala até lá para teres direito a 1 cerveja!

Vais ter a oportunidade de ouvir falar sobre o potencial das apps para o crescimento do uso da bicicleta – entre os oradores estão pessoas de outras apps, como a Horizontal Cities e a vonCrank (uma app britânica para chamar um Bicycle Repair Man lá do sítio!).

Web Summit Side Event Biklio Happy Hour

 

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Bikesharing sem docas

No início deste mês escrevi sobre as 6 razões para aderir ao bikesharing em Lisboa. Apesar de já se verem docas nas outras zonas a cobrir por este sistema de 3ª geração, além do Parque das Nações, onde o serviço já está em funcionamento, as bicicletas ainda não apareceram. Agora entrou em funcionamento um bikesharing sem docas, em Cascais.

O bikesharing sem docas chegou a Portugal pelas mãos da chinesa ofo

Entretanto, em Cascais, que também tem um sistema de bikesharing, apareceram esta semana 50 bicicletas da ofo (o nome visa lembrar a forma de uma bicicleta), um dos gigantes chineses das bicicletas partilhadas sem docas que têm invadido cidades por todo o mundo.

Estes sistemas são uma espécie de full circle, pois voltamos aos primódios dos sistemas de bikesharing, surgidos na Holanda nos anos 60, em que as bicicletas eram deixadas “por aí” para quem as quisesse usar, pegando numa onde a encontrasse e deixando-a no final onde lhe conviesse. Nessa primeira encarnação rapidamente os furtos e o vandalismo acabaram com a ideia, hoje em dia a tecnologia ajuda a minimizar isso, e torna mais fácil localizar bicicletas livres. Portugal não chegou a ter estes sistemas de 1ª geração, mas teve um de 2ª geração, as BUGAs.

Aparentemente o bikesharing sem docas da ofo será integrado na plataforma MOBICascais. Ainda não vieram para Lisboa porque consideram que só quando tiverem bicicletas eléctricas (no final de 2017) é que estarão preparados para tal. 

Em Cascais, a Ofo está disponível com 50 bicicletas sem assistência elétrica e sem caixa de velocidades. Para utilizar o serviço, é necessário descarregar a app para iOS e Android. Ao abrir a aplicação, é apresentado um mapa da vila com as bicicletas disponíveis (estas estão equipadas com um sistema de tracking por GPS). Depois de carregar no botão para desbloquear, o utilizador tem de introduzir o número da bicicleta ou então ler o código QR exibido por cima da roda traseira. A seguir, a aplicação dá o número para desbloquear o cadeado da bicicleta. A partir daí, pode utilizá-la e deixá-la onde quiser. O pagamento é feito através do cartão de crédito.

 

ofo cascais bikesharing
Fonte: Shifter

Ou seja, é preciso um smartphone (com bateria) e wifi ou dados móveis, e não dá para pensar em grandes subidas com isto (não têm mudanças!). 

Por outro lado, há muito maior liberdade no sítio onde a estacionamos e devolvemos ao sistema (e, com sorte e escala/dimensão suficiente, maior facilidade em encontrar uma bicicleta disponível ao pé de nós quando a queremos).

Custa 1 € por cada meia-hora (e, dizem eles, vai haver um sistema de créditos). A Shifter diz que «se quiseres uma viagem grátis, podes utilizar o código Y03CfF».

woman riding an ofo bike
Fonte: Dinheiro Vivo

Só não sabemos se será um sistema para ficar, uma vez introduzido por cá. Este tipo de bikesharing tem gerado grandes problemas noutras cidades, relacionado com a utilização desregrada de espaço público, e mesmo de abuso e de abandono de bicicletas no espaço público, e muitos questionam a sustentabilidade financeira destes sistemas…, sendo que se especula que o verdadeiro modelo de negócio não é o aluguer de bicicletas mas a aquisição e comercialização de big data recolhida dos padrões de utilizaçãodas bicicletas pelos utilizadores.

A minha esperança é que, a haver problemas de abuso do espaço público por cá isso sirva para despoletar uma conversa colectiva sobre a muito pior, mais perniciosa e omnipresente ocupação – legal e ilegal – do espaço público por automóveis privados

EDIT de 10/11/2017: A ofo veio à Web Summit falar disto tudo:

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Morreu a Velo Vision. Viva a Velo Vision!

A revista britânica Velo Vision foi, em 2005/2006, um dos fortes catalisadores para a nossa entrada no mundo da bicicleta como ferramenta de transporte, lazer e diversão.

Num simples conjunto de folhas ilustradas com vívidas fotografias e detalhadas descrições de bicicletas e triciclos menos habituais por Portugal, descobrimos um mundo de veículos movidos a pedal que até ali desconhecíamos.

Peter Eland, criador da revista em 2000, decidiu ao fim de 15 anos e 48 edições, passar o testemunho a outra pessoa. E foi em 2015 que esta passou para as mãos de Howard Yeomans. Howard já tinha escrito vários artigos para edições publicadas por Peter, e publicou nesses últimos 2 anos mais 4 edições.

Foi com tristeza que recebemos há umas semanas o anúncio que a produção da Velo Vision iria terminar.

Embora este fim signifique que o estado atual do mundo das [bi/tri/etc]cicletas utilitárias e fora do comum deixe de ser cristalizado 2 vezes por ano em forma impressa, e que deixaremos de poder ficar em pulgas para ler a reportagem anual com as novidades da SPEZI, temos confiança que outros canais de divulgação ocuparão o lugar deixado pela Velo Vision.

Como gostaríamos de poder contagiar-vos e inspirar-vos tal como nos aconteceu, pedimos ao Howard a possibilidade de partilhar online, gratuitamente, todas as edições da revista em formato digital (PDF). Assim, podem aceder neste arquivo aos 52 números da revista Velo Vision. [Ligação atualizada em 11/20!]

Podemos também anunciar que esperamos conseguir colmatar este ano a falta de reportagem da SPEZI, fazendo-a o mais em direto possível, caso as condições técnicas estejam asseguradas. Por isso, se alguém souber de uma forma de ter um acesso à Internet em roaming, rápido e sem limites muito reduzidos, agradecemos desde já qualquer sugestão.

Por isso, lamentamos que a Velo Vision não continue, mas celebramos a sua existência, e aquilo que proporcionou e proporciona aos seus leitores.

Viva a Velo Vision!

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This girl can / Esta rapariga pode

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Esta Rapariga Pode é uma campanha nacional [no Reino Unido] desenvolvida pela Sport England e uma vasta gama de organizações parceiras. É uma celebração de mulheres activas por todo o país que estão a fazer a cena delas, não interessa quão bem o fazem, qual o seu aspecto ou até mesmo quão vermelhas ficam as suas caras.

 

Há muitos exemplos de exercício e desporto, mas também há exemplos de actividade física simples, como “ir de bicicleta”.

A Grace gosta de andar de bicicleta, ela gosta de estar lá fora a pedalar ao ar fresco, às vezes frio. Ela não está numa corrida com ninguém, não se preocupa com a velocidade a que vai. Ela simplesmente faz a cena dela e é só isso que importa.

Nos bastidores:

Podem ver mais posters e vídeos na página de Facebook da campanha.

O estudo prévio a esta campanha revelou que as mulheres sabem que deveriam exercitar-se mais, mas ainda assim falham em atingir os níveis mínimos de actividade física recomendados para uma vida saudável. Concluiu-se ainda que na faixa etária dos 14 aos 40 anos há menos 2 milhões de mulheres a exercitarem-se face ao número de homens que o fazem, e 75 % das mulheres nesta faixa etária gostariam de fazer mais desporto e/ou exercício físico, mas o medo de serem julgadas é maior do que a sua auto-confiança: 

  • medo de serem julgadas pelo seu aspecto durante a actividade (suadas, ruborizadas, pobre forma física, etc)
  • medo de serem julgadas por não serem boas o suficiente a realizar determinada actividade, ou então demasiado boas e, “logo”, pouco femininas
  • quando têm filhos, sentimento de culpa e medo de serem julgadas por gastarem demasiado tempo com elas próprias

‘This Girl Can’ é uma celebração de todas as mulheres que encontram a confiança para fazerem exercício: é uma atitude, e uma chamada à acção para todas as mulheres fazerem o mesmo. Esta campanha pretende abordar os medos das mulheres, mostrando-lhes que não estão sozinhas, e a esperança é que isso lhes dê mais confiança.

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Não conheço outros estudos ou campanhas similares em Portugal, mas desconfio que a nossa realidade, a este nível, não será muito diferente. E penso também que a menor proporção de mulheres a usar a bicicleta como meio de transporte em Portugal, relativamente aos homens, poderá ter, em parte, a ver com esta questão.

Infelizmente em Portugal não se faz muito “marketing” de causas. Nem o Governo, nem organizações grandes. O mais parecido que me lembro foi o projecto Maria Bicicleta, uma iniciativa privada, da Laura e do Vitorino, que depois teve algum apoio institucional da Câmara Municipal de Lisboa e EMEL, na forma de uma exposição na Av. Duque de Ávila. Muito pouco para ter impacto significativo na população, claro.

Maria Bicicleta

Dia 8 de Março é o Dia Internacional da Mulher. Mas já passou, e é só um dia para nos recordar da importância dos outros 364. Que tenhamos todas força para preferirmos ser saudáveis, fortes, independentes, e divertirmo-nos, sempre, e não só em ocasiões especiais. Porque o cabelo desalinhado, a cara vermelha, o suor, o sentirmo-nos fora de forma ou pouco atraentes, é tudo transitório, e irrelevante, o que vai permanecer é a sensação brutal de “eu consigo”, “eu gosto”, “eu quero mais”. Porque nós merecemos.