As nossas escolhas de mobilidade dependem de como o sítio em que vivemos está construído e organizado. As políticas de transportes, de habitação, económicas e de urbanismo trabalham em conjunto (ou umas contra as outras) para nos oferecer a experiência de de circulação e usufruto da cidade a que nos sujeitamos hoje, e a de que podemos desfrutar (ou sofrer) amanhã. Como está a bicicleta nas eleições autárquicas de 2017?
Amanhã, dia 1 de Outubro, podemos contribuir para uma mudança positiva a estes níveis. Podemos ir até às unas a pé ou de bicicleta (ou mesmo de transportes públicos colectivos) e deixar o carro quieto. E podemos votar em quem planeie tomar medidas que mexam no status quo, que ousem fazer diferente e melhor.
A Quercus foi consultar os programas eleitorais e fez o levantamento das propostas na área da mobilidade das principais listas candidatas à Câmara Municipal de Lisboa e do Porto. O apanhado está aqui.
A Rosa Félix, Bernardino Aranda, Miguel Carvalho, Ricardo Sobral, activistas de há muito tempo pela mobilidade sustentável e em bicicleta fizeram um apanhado das propostas políticas de cada candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. «Usando citações directas dos programas», compilaram tudo numa tabela comparativa cobrindo a habitação, o turismo, e a mobilidade, transportes e modos activos.
O CycleHack é um evento internacional com uma abordagem proactiva e faça-você-mesmo às barreiras ao uso da bicicleta.
Em que consiste o CycleHack?
Ao longo de um fim-de-semana, os participantes metem as mãos na massa e, em equipa, propõem e desenham soluções (“cyclehacks”) para resolver problemas com que os utilizadores de bicicleta – efectivos e prospectivos – como eles, se confrontam em Lisboa.
Um “cyclehack” é uma ideia que pode ser prototipada de forma rudimentar e testada na cidade e que tenta resolver uma barreira ao uso da bicicleta. ‘Hacks’ podem ser produtos físicos, apps digitais, ideias para novas campanhas de sensibilização ou para influenciar políticas públicas, e podem contemplar infraestrutura local e mapeamento de rotas.
Houve uma ideia desenvolvida no CycleHack Lisboa do ano passado (o primeiro em Portugal), pelo André, que gostaria muito de ver implementada: um sistema para permitir aos ascensores da cidade rebocar bicicletas. Porque às vezes dava mesmo jeito “cortar a direito” pelas colinas. 🙂
Outra ideia que gostaria que evoluísse para algo funcional era a minha máscara de emergência anti-poluição, porque Lisboa ainda tem um problema de poluição e às vezes é difícil evitá-la ou fugir dela. 🙁
E devo dizer que adorei a ideia do Manuel, do “pega-monstros” para autocarros e outros veículos grandes nos rebocarem de bicicleta! 😀
Já temos mais algumas ideias na manga para desenvolver este ano. Uma envolve a Mutthilda, a outra visa melhorar o conforto nas nossas viagens a pedal, e uma outra serviria para criar uma campanha de sensibilização. Participaremos novamente, claro! É um evento que junta a malta e nos dá o pretexto para brincarmos como gente grande durante um fim-de-semana, e quem sabe criar algo que seja útil a mais pessoas? Retribuir os hacks de que já beneficiámos também. 🙂
E vocês, já se inscreveram também ou vão passar ao lado de uma grande carreira?
As crianças precisam de brincar. Bolas, os adultos precisam de brincar, quanto mais as crianças!
Infelizmente, nas últimas décadas fomos construindo um mundo, uma sociedade, uma cultura, em que as crianças levam uma vida de reclusas. Reclusos bem tratados e cheios de actividades de suposta estimulação, mas ainda assim reclusos – não têm a liberdade de explorar o mundo como desejam e precisam. De estar ao ar livre e fora de portas, de explorar o meio físico em que se encontram, de se aventurarem, de perseguirem os seus próprios interesses e paixões, de correrem riscos, de aprenderem a gerir emoções, interesses, frustrações, sonhos, riscos. Há sempre adultos a dizerem-lhes o que fazer, com o que brincar e como, e quando, e até com quem. Isto é mau agora, e terá um preço a pagar no futuro.
Como nós brincámos muito, tivémos a liberdade de andar na rua e brincar como bem nos apetecia, sabemos o bem que soube, e o bem que nos fez. E lamentamos ver tantas crianças privadas desse privilégio, em nome de uma ilusão de segurança e competitividade.
Como andar de bicicleta tanto pode ser uma brincadeira como um meio de transporte, e enquanto meio de transporte continua a ter muito de brincadeira, e é uma ferramenta importante a nível de desenvolvimento psicomotor, nós fomos lá promover isso mesmo. Levámos bicicletas familiares para mostrar ao público, e por vezes os test rides funcionaram como uma espécie de “volta no carrocel”. 🙂 E andámos também a dar dicas aos pais de como podem ajudar os filhos a largar as rodinhas (explicando que na Escola de Bicicleta ensinamos isso e tudo o resto!).
Haviam várias actividades para estimular a brincadeira, inclusivé uma área de brincadeira livre, dos 1, 2, 3 macaquinho do xinês, onde apanhámos o prof. Carlos Neto, da FMH, a brincar também, por uns instantes. 🙂
Se não ouviram ainda falar dele, espreitem aqui, onde ele faz notar que as crianças hoje são como animais em cativeiro, aqui, onde ele alerta para o crescente analfabetismo motor dos miúdos (algo que nós próprios fomos notando ao longo dos anos nas nossas actividades com os karts KMX e com as aulas e afins) e aqui, onde ele fala do sedentarismo e da organização do território e do trabalho, por exemplo. E têm também estes vídeos, no âmbito do Dia de Aulas ao Ar Livre, que já chegou a Portugal!
Entretanto, precisamos de Um Novo Conceito de Parque Infantil. We need Rethinking Childhood, we need Freerange Kids, we need riskier playgrounds! E precisamos de menos carros na cidade, se reduzirmos o número e velocidade dos carros, aumentaremos o número de crianças na rua, seja a brincar, a caminhar, a andar de bicicleta, etc. É o volume, velocidade, hipermobilidade e anonimato dos carros que gera o medo da rua.
Libertemos as crianças! E, no processo, libertemos também os adultos, novos e velhos. 😉
Agora a sério, este tandem, Helios, da Circe Cycles, é uma excelente opção de transporte familiar, e o tandem mais maneirinho mas polivalente que anda aí (por isso está no nosso catálogo de tandems há anos!).
Tem rodas 20″ e um quadro baixo. Pode ser esticado para 3 lugares, e há um kit para o tornar desmontável (ideal para transporte aéreo). Dá para levar adultos e crianças a pedalar, e dá para o transformar numa longtail e levar carga, ou crianças em cadeirinhas ou ainda no “ovo”. Geralmente estas coisas não são baratas, mas o Helios é tão versátil e adaptável que se torna um investimento mais fácil de justificar, pois evolui com as necessidades de uma família em crescimento.
Antes não havia modelos eléctricos, e por isso instalavámos kits quando era preciso, mas agora há o Helios STEPS, que vem de origem com o sistema da Shimano! Sweet!
Ah, e como qualquer tandem, este permite que atrás vá um passageiro [pedalante!] cego ou amblíope. É justamente essa a principal função deste tandem que usámos no vídeo – será usado num projecto universitário de promoção da actividade física em bicicleta por pessoas com necessidades especiais, na Faculdade de Motricidade Humana, e isso torna-o ainda mais fixe. 🙂
E, como alguém que já teve o privilégio de conhecer uma cidade a pedalar num tandem atrás da anfitriã (em Tilburg – thanks Angela!), posso dizer que esta ideia de um tUBR, ou de um serviço de guia turístico num tandem não é nada mal pensada…
Estas bicicletas são em tudo semelhantes às bicicletas convencionais, em termos de aspecto geral, componentes, funcionamento, manutenção, etc, mas estão equipadas adicionalmente com um motor eléctrico e uma bateria que podem assistir a pedalada do condutor.
É importante notar que o motor não substitui o esforço do condutor, apenas o complementa e alivia.
Essa assistência tem um impacto significativo na experiência de uso da bicicleta numa cidade não plana: as subidas, o transporte de carga ou passageiros, o calor, o vento, a chuva, e o tráfego automóvel tornam-se muito mais fáceis de encarar. O resultado é que as pessoas fazem mais viagens de bicicleta, inclusivé viagens mais longas, quando passam para uma eléctrica, ou seja, conseguem substituir o carro (que consome 30 vezes mais energia para se mover) e outros modos pela bicicleta num maior número das suas deslocações.
Neste vídeo de 5 minutos intensivos, compreenderá exactamente porque é que as bicicletas com assistência eléctrica são cada vez mais populares (os slides estão aqui), e porque é que as piadas sobre serem “batota” não fazem sentido. 🙂
As pedelec (acrónimo para ‘Pedal Electric Cycle’) são designadas de “velocípedes a motor” e são em tudo equiparadas a velocípedes normais para efeitos do Código da Estrada, com a excepção do uso de capacete – este é obrigatório para condutores e passageiros de velocípedes a motor (n.º 5 do Art.º 82).
Os velocípedes a motor são, de acordo com o Código da Estrada, velocípedes em que:
os motores têm uma potência máxima de 250 W
os sistemas têm um sensor de pedalada – só assistem enquanto o condutor pedalar
os sistemas têm um sensor de velocidade – só assistem até aos 25 Km/h (a partir daí é só força de pernas ou da gravidade)
Os modelos mais sofisticados têm geralmente 3 ou mais níveis de assistência e também um sensor de força da pedalada, o que permite oferecer uma experiência ainda mais similar à de uma bicicleta convencional, maior controlo e maior precisão na gestão da capacidade da bateria. Usar a bicicleta com o sistema desligado também é possível, claro.
Muitos sistemas têm um nível 0, em que o sistema está ligado mas o motor não assiste – quando chega um troço em que queremos assistência basta carregar no botão do nível de assistência (efectiva) 1, 2, 3, etc. Alguns sistemas (nomeadamente da BionX) têm também níveis de regeneração, servem para travar com o motor e poupar os travões em descidas, simular o esforço de subidas em zonas planas (interessante para condicionamento físico), e recarregar parcialmente a bateria no processo.
Há modelos com motores no cubo traseiro, outros na pedaleira, e outros no cubo dianteiro (e outros, mais raros, de fricção nos pneus ou nos aros, como o Velospeeder), e as baterias são normalmente fixas ao topo do porta-bagagem traseiro, ou ao quadro, ou atrás do tubo do selim, ou no tubo inferior. As consolas variam em funcionalidade, mas algumas têm até sistema de GPS, como a Nyon da Bosch, entre outras utilidades. As vantagens e desvantagens das diferentes opções e combinações dependem da bicicleta em causa, do sistema, e da aplicação desejada, e por isso fazemos o aconselhamento caso-a-caso.
De notar que, a par das pedelec, hoje em dia há também as “fast e-bikes“, ou “S-Pedelecs“, nestas o motor vai até aos 350 W e assiste até aos 45 Km/h, mas em Portugal só podem ser usadas em áreas privadas pois na prática são ciclomotores não homologados.
Nós em particular, trabalhamos com marcas como VSF Fahrradmanufaktur, Kreidler, Riese & Müller,e Quipplan, nas bicicletas eléctricas de origem, e BionX nos kits, entre outras. A Bosche a Brosesão dois dos principais sistemas equipados de série, actualmente. Há modelos para todas as necessidades, dobráveis (roda grande ou pequena), compactas, de cidade, de BTT, de quadro rebaixado ou alto, com ou sem suspensão, para a cidade ou para touring, para transportar crianças ou carga,… Nas citadinas, a amplitude de preços vai dos cerca de 1300 € a mais de 6000 €, e é à volta dos 2500-3000 € que mais facilmente encontramos o nível de equipamento ideal.
“Por esse preço compro uma scooter!”
Na verdade, quem opta por uma bicicleta eléctrica deseja algo diferente de quem opta por uma scooter (eléctrica ou não), e os preços por vezes similares não deverão ser relevantes nesse caso.
Com uma bicicleta eléctrica:
temos a possibilidade de andar frequentemente de bicicleta 🙂
usamos um modo fisicamente activo de transporte, mas com fácil gestão do esforço
temos uma velocidade máxima assistida de 25 Km/h (é raro passarmos esse limite salvo em descidas)
podemos conjugá-la com transportes públicos, apanhando boleia destes
não precisamos de matrícula, licença de condução ou seguro
o consumo de electricidade é muito reduzido e é fácil carregar a bateria em qualquer lado (removemo-la e levamo-la connosco)
levando-a a mão somos equiparados a peões, permitindo-nos apanhar atalhos
podemos andar nas ciclovias, parques, jardins, etc
não podemos circular em vias reservadas a automóveis ou auto-estradas
podemos transportar crianças com menos de 7 anos de idade em cadeiras ou atrelados
é fácil transportar carga na bicicleta
a lei diz que temos que usar capacete mas não parece haver consenso jurídico
podemos arrumá-la dentro de casa
há imensos formatos e configurações de equipamento (grandes, pequenas, dobráveis, convencionais, rígidas, com suspensão, diferentes tipos de mudanças e travões, diferentes funcionalidades na consola, etc)
Com uma scooter:
não andamos de bicicleta tão frequentemente
mantemo-nos sedentários (piorado pelo facto de facilmente levarmos a scooter para a porta de cada destino)
andamos a uma velocidade máxima de 45 Km/h
não podemos conjugá-la com transportes públicos, apanhando boleia destes (salvo os ferries)
precisamos de matrícula, licença de condução, seguro e capacete
os consumos são sempre superiores aos de uma pedelec, e temos que atestar numa bomba de combustível (se não for eléctrica)
não somos equiparados a peões se a levarmos à mão
não podemos andar nas ciclovias, parques, etc
não podemos circular em vias reservadas ou auto-estradas
não podemos transportar crianças com menos de 7 anos de idade
o transporte de carga é mais limitado
temos que usar capacete
temos que ter garagem ou deixá-la na rua
as scooters têm todas tamanho, formato e aspecto muito similar
Se apenas quer uma alternativa ao carro e aos transportes públicos, porta-a-porta, para mobilidade pessoal, e em que a saúde e o bem-estar são considerações secundárias, a scooter pode ser mais adequada ao seu caso.
Se manter um estilo de vida activo, desfrutar da cidade, transportar crianças ou carga, é importante para si, e quer um meio de transporte simples, competitivo dentro da cidade, fácil de arrumar ou transportar, barato e prático de manter, a pedelec é para si!