O Encontro de Bicicletas Antigas da Burinhosa voltou a ter destaque nos media televisivos. A SIC emitiu ainda uma reportagem acerca de profissões em vias de extinção que usam a bicicleta, os amoladores e a entrega de pão porta-a-porta.
[Via]Outra história de um dos últimos amoladores.
[Fonte: O Mirante]Manuel da Silva, 62 anos, puxa a bicicleta ferrugenta pelas ruas de Santarém soprando na gaita-de-beiços para chamar os clientes
Manuel da Silva, 62 anos, puxa a bicicleta ferrugenta pelas ruas de Santarém soprando na gaita-de-beiços para chamar os clientes. Dizem que quando os amola-tesouras tocam é sinal de que a chuva está para vir. A manhã está fria e o sol espreita por entre os prédios do centro histórico. Não há sinais de chuva nem de clientes. Já lá vai o tempo em que amolar facas, navalhas da barba, tesouras era um negócio que dava para viver. Agora vai dando para o tabaco e pouco mais.
Aprendeu a profissão com o pai há cinquenta anos, mas nem sempre se dedicou à arte. Quando era mais novo trabalhava numa saibreira em Amiais de Cima agarrado à picareta várias horas por dia. Nas horas livres fazia uns biscates como amola-tesouras para arranjar mais dinheiro para as despesas da casa. Manuel da Silva mora no Jardim de Cima, arredores de Santarém, e vai percorrendo algumas terras da região à procura de costureiras que ainda são aquelas que lhe vão dando algum trabalho numa época em que se refere comprar uma faca ou uma tesoura nova que amolar a velha.
Mais uma sopradela na gaita, mais uns passos lentos. Um corno pendurado no guiador vai balançando suavemente. É para afastar a inveja, mas também há uns anos tinha uma missão. Era cheio com água onde se arrefeciam as navalhas da barba quando estavam a passar na roda de amolar. A bicicleta já tem quarenta anos e foi comprada já equipada com a roda de amolar junto ao guiador movida pela força das pedaladas através de uma corrente cheia de óleo. Manuel da Silva é dos últimos resistentes de uma profissão que está em vias de extinção. Os filhos não quiseram aprender um ofício em que tem que se andar muitos e muitos quilómetros até se ganhar às vezes apenas cinco euros.
Um negócio literalmente movido a pedal. Este, infelizmente, em extinção… São os amoladores. Lembram-se daqueles homens que de vez em quando passavam lá pela rua, reconhecíveis à distância pelo seu realejo típico, trazendo uma bicicleta? Ligo essas memórias à minha infância. Quando se ouvia aquela música era para ir buscar as tesouras, facas e até guarda-chuvas para arranjar ou afinar. 🙂 Agora estamos na era do usar e deitar fora em vez de arranjar porque comprar novo é tão barato, às vezes até mais barato do que mandar arranjar!
[Fonte: O Primeiro de Janeiro]«Os últimos amoladores
Há alguns anos trás era vulgar vê-los a percorrerem as ruas das cidades. Hoje são verdadeiras raridades e há mesmo quem já não se lembre do som do realejo que os anuncia. Os amoladores são uma profissão em vias de extinção.Durante muitos anos percorreram as ruas e estradas do velho Portugal anunciando, através do som inconfundível do realejo, o arranjo imediato de guarda-chuvas, sombrinhas, tachos, panelas, facas e tesouras. (…)
Em tempos não muito remotos, os amoladores pululavam um pouco por todo o lado, eram presença assídua e familiar nas aldeias portuguesas e não tinham mãos a medir para satisfazer os clientes da sua área de residência. Actualmente, garante José Martins, “não serão mais de uma dúzia” os que ainda se dedicam à actividade, metendo os pés ao caminho, numa vida de autênticos saltimbancos. “Penso que é uma profissão com os dias contados. Acha que, hoje, há algum jovem que se queira sujeitar a andar na rua a tocar realejo?”, questiona. (…)
Depois do realejo, solta-se o pregão “Amolador à porta. Arranja-se guarda-chuvas, sombrinhas, facas, tesouras. Se tem para arranjar, é hoje”. Nas suas típicas bicicletas, sobressai a pedra de esmeril, usada para amolar através de um engenhoso sistema movido pelos pedais.
Mas nas mesmas bicicletas, e além de varetas, alicates, arrebites e toda a ferramenta necessária para “acudir” a um guarda-chuva, a uma tesoura ou a um tacho, os amoladores carregam igualmente memórias e melodias que marcaram várias gerações. “Sabe quando passa na rádio uma música antiga, que já não se ouvia há muito? É o mesmo que acontece quando aparece o som do realejo dos amoladores”, afirmou à Lusa, nostálgico, um transeunte.»
Há as versões nómadas mas também as sedentárias. 😉